quinta-feira, 10 de maio de 2007

RESUMO DA CONFERÊNCIA DE JORGE EDWARDS NO INSTITUTO CERVANTES


O escritor Chileno Jorge Edwards trouxe a Lisboa
as suas recordações do Amigo Pablo Neruda


(A pedido de várias famílias, vou tentar escrever o que me ficou na cabeça...)

Depois de uma breve apresentação feita pelo Director do ICL, e de algumas considerações sobre a vida política e literária do Conferencista convidado feitas por José Carlos Vasconcelos, Jorge Edwards, Prémio Cervantes 1999 tomou a palavra.
Falando em Espanhol com sotaque chileno, naturalmente, o Conferencista começou por recordar os seus primeiros contactos com a Literatura Portuguesa através do convívio com Ruben Braga, Jorge Amado e Vinicius de Morais no Rio de Janeiro.
Jorge Edwards, de ideais políticos de esquerda, foi Embaixador do Chile em Cuba.
O seu primeiro contacto com as Letras Portuguesas foi através da obra de Fernando Pessoa, sobre o qual foi o primeiro a escrever um artigo em 1957, antes de Octávio Paz que também escreveu sobre Pessoa.
Na altura, em Santiago do Chile, havia um funcionário da Câmara chamado Fernando Pezoa, pelo que toda a gente perguntava a Jorge Edwards porque escrevia sobre um indivíduo que nunca tinha escrito coisa alguma… Edwards tinha de explicar que o Pessoa em questão se escrevia com dois “ss” e era Português, mas alguém numa conferência nesse tempo lhe disse que também queria saber o que o “Pezoa Municipal” tinha escrito…

Com cerca de 21 anos, Edwards conheceu Pablo Neruda. Entretanto Neruda com 24 anos e anteriormente já tinha escrito “20 Poemas de Amor y Una Canción Desesperada” e depois ainda escreveria “Los Poemas del Capitán”, "Canto general" e “Residência en la Tierra “.

Passou depois a contar várias história curiosas sobre Neruda, (vamos lá ver se ainda me lembro).

Quando Neruda foi Embaixador do Chile na Birmânia, conheceu uma jovem birmanesa chamada Josie Biss, mas que ao pé dos estrangeiros dizia que o apelido era Bliss (êxtase). No início do relacionamento, Neruda tinha algum receio da senhora, porque era dada a práticas esotéricas, rezas estranhas, etc.. De dia andava vestida à ocidental, mas à noite vestia-se de birmanesa e andava pela casa onde então moravam, com rezas e incensos, etc.. Além disso começou a ser muito ciumenta, zangando-se com Neruda, que como Embaixador tinha de ir a muitas reuniões, recepções, etc.. De modo que a coisa foi piorando e uma noite quando Neruda acordou, andava ela em círculos à volta da cama, com uma faca na mão!
Neruda então sem nada lhe dizer, pediu para ser transferido como Embaixador para Colombo, capital do Ceilão (actual Sri-Lanka).
Assim, uma manhã, despediu-se da Josie como de costume, sem nada levar além de uma mala pequena, como se fosse para a Embaixada, mas em vez disso foi apanhar um navio para o Ceilão. Tinha deixado uma carta para Josie em sítio onde ela levasse algum tempo a encontrá-la.
Durrante a viagem aproveitou então para escrever o poema “Tango del Viúdo”, dedicado a Josie.

No fragmento abaixo de Tango del viudo (Tango do viúvo) percebe-se o sofrimento infinito do eu-lírico:

Oh, maligna, ya habrás hallado la carta, ya habrás llorado de fúria
y habrás insultado el recuerdo de mim madre
llamándola perra podrida e madre de perros,
ya habrás bebido sola, solitaria, el té del atardecer
mirando mis viejos zapatos vacíos para siempre, (...)
Maligna, la verdad, qué noche tan grande, qué tierra tan sola!
He llegado otra vez a los dormitorios solitarios,
a almorzar en los restaurantes comida fria, y otra vez
tiro al suelo los pantalones y las camisas,
no hay perchas em mim habitación, ni retratos de nadie en las paredes.
Cuánta sombra de la que hay en mi alma daria por recobrarte,
y qué amenazadores me parecen los nombres de los meses,
y la palabra invierno qué sonido de tambor lúgubre tiene.

(Oh maligna, já terás achado a carta, já terás chorado de fúria / e terás insultado a memória de minha mãe, / chamando-a de cadela suja e mãe de cachorros, / já terás tomado sozinha, solitária, o chá do entardecer / a espiar os meus velhos sapatos vazios para sempre (...)
Maligna, em verdade, que noite tão grande, que terra tão só! / Cheguei mais uma vez aos dormitórios solitários, / a almoçar comida fria nos restaurantes, e uma vez ainda / atiro no chão as calças e as camisas, / não há cabides no meu quarto, nem retrato de ninguém nas paredes. / Quanta sombra da que existe em minha alma não daria para recobrar-te, / e que ameaçadores me parecem os nomes dos meses, / e a palavra inverno tem um som de tambor lúgubre.)

Meses depois, já em Colombo, estando um dia na varanda, Neruda viu chegar uma grande camioneta de mudanças para a casa em frente… começaram a descarregar e ele começa a ver objectos que lhe eram conhecidos… até que desce também uma senhora vestida de birmanesa… a Josie tinha descoberto onde ele estava e tinha alugado a casa em frente para continuar a vigiá-lo!


(continua)

5 comentários:

tufa tau disse...

está feito...

Anónimo disse...

TUFA

AINDA FALTA UMA PARTE! MAS HOJE NAO ME APETECEU...

BJ

Maroska disse...

Bom dia Princesa, espero que esteja na paz dos anjos.
Fiquei com água na boca depois de ler este post...e o resto? Continua quando?
Beijokas

Paulo Silva disse...

Depois de me deliciar neste belo espaço, deixo votos de um bom fim de semana.

MJ disse...

Boa tarde, minha querida:-)

Arranjei hoje um tempinho para "visitar" os amigos :-)
Não vou conseguir ler o post mas prometo fazer uma leitura atenta muito, muito brevemente :-)

Beijo grande*