segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006

Neste Carnaval, mascaro-me de Princesa Medieval Feminista...

* * *
Então, como estamos no Carnaval, cá estou ataviada com o meu fatinho de Princesa Feminista… não fujam… vou cantar-vos uma já muito antiga

Pequena Trova Medieval Feminista

Sou guerreira apaixonada,
Joana d´Arc doutras guerras,
de Amor é minha cruzada,
para mim é tudo ou nada,
quebrarei escudo e espada
por ter esse coração
que no castelo do peito
com tanto cuidado encerras.

És príncipe de olhos negros
recortados em veludo...
enredar-te em meus enredos,
partilhar os teus segredos,
para mim é nada ou tudo,
e é por causa dos teus medos
que te engano, que te iludo...

Vamos inverter a História,
pôr futuro no passado:
para mim a fama e glória,
serei a conquistadora,
serás tu o conquistado,
serei eu tua senhora,
tu meu escravo alforriado,
meus desejos, sem demora
atender, será teu fado...
- mas do fogo dos meus beijos
também ficarás marcado...

Princesas presas em torres
era o tema mais comum...
Hoje invertem-se os valores,
cavaleiros e senhores
de valor, não há nenhum...
com medo de sofrer dores,
paixões cegas, desamores,
de mulher apaixonada
fogem todos, um a um...
* * *
L.N. 98

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

150º Aniversário da Morte de Heinrich Heine (Alemanha, 1797-1856)

* * *
As Velhas Canções Ruins

As velhas canções ruins,
e os maus sonhos sem razão,
vamos agora enterrá-los.
Trazei-me um grande caixão.

Muita coisa que eu não digo,
lá dentro há-de ter albergue,
deve o caixão ser maior
do que o tonel de Heidelberg.

Procurai-me um ataúde
de madeira, que não rompe,
que ele seja mais comprido
que, de Mogúncia, é a ponte.

Trazei-me doze gigantes
que pesados fardos movam,
maiores que, na catedral
de Colónia, é São Cristóvão.

No caixão devem pegar,
deitá-lo ao mar, na fundura,
pois, que a tão grande caixão,
cabe grande sepultura.

Sabeis vós, porque assim quero
caixão tão vasto e potente?
Para deitar meu amor
e a minha dor, juntamente.


In "Livro de Canções" - Tradução de A. Herculano de Carvalho

domingo, 19 de fevereiro de 2006

Poema Só Para Alguns


Ó Homem, ser insensato!
Correm séculos… e tu
pouco cresceste do Nada.
Daninho, vaidoso e cru,
o corpo pões tu a nu,
− mas fica a alma tapada…

Vamos lá ver se consegues
sair desta vil tristeza…
E se entendes, se percebes,
que à luz da cósmica lei,
tu não és Deus nem és Rei…
− és apenas Natureza.
***
L.N. 96

Poema Escrito em Vão


ESTE POEMA É ESCRITO EM VÃO.
NÃO TRANSMITE TESE,
NÃO FAZ EXEGESE,
NÃO DÁ CATEQUESE,
NÃO DIZ SIM NEM NÃO.

ESTE POEMA É ESCRITO EM VÃO.
NÃO QUER SER SINCERO,
NÃO TRAZ DESESPERO,
FOI FRUTO DO MERO
VAGUEAR DA MÃO.

ESTE POEMA É ESCRITO EM VÃO.
NÃO É VERDADEIRO,
NÃO É CORPO INTEIRO,
SAIU DO TINTEIRO
SEM QUALQUER RAZÃO.

ESTE POEMA É ESCRITO EM VÃO.
NÃO PRETENDE OBTER
DAQUELE QUE O LER,
APLAUSO, OU SEQUER
LEVE APROVAÇÃO.

ESTE POEMA É ESCRITO EM VÃO.
NÃO SENTE CALOR,
NÃO GRITA DE DOR,
NÃO MORRE DE AMOR,
NÃO VIVE EM PAIXÃO.

ESTE POEMA É ESCRITO EM VÃO.
NUNCA TEVE NORTE,
NEM AZAR, NEM SORTE…
E VAI PARA A MORTE
SEM PEDIR PERDÃO.
***
L.N. 98

terça-feira, 14 de fevereiro de 2006

Aspásia engalanou-se para o S. Valentim...

***
Kalispera, caros amigos do Séc. XXI!
Como podem ver, já enverguei as minhas melhores galas para receber o meu bem amado Péricles, quando chegar do serão que tem hoje no Senado, por mor de uma porfia entre Demócrito e Leucipo. Diz-se que é por causa de uns tais de átomos, que dizem in(di)visíveis... ora o que eles inventam para estarem o menos tempo possível connosco, as suas queridas que tudo fazemos para lhes agradar...
Bem, desejo a todos um bom S. Valentim e hoje, serões, só são permitidos dentro das domus...
Beijos e philos para todos.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

Aceitam-se Encomendas para o S. Valentim

Caros amigos, se pretenderem presentear os vossos mais-que-tudos com uma quadra romântica, ou mesmo de outro cariz, é só lerem este anúncio e colocarem a vossa encomenda nos comentários, indicando o nome ou nick do destinatário. Como estou em campanha especial de S. Valentim, não cobrarei quaisquer emolumentos. Beijinhos e boa sorte...

* * *

*** A N Ú N C I O ***

Se quiseres dedicar
uma estrofe à namorada,
se quiseres (en)levar
a sogra, o primo, a criada…
não tens mais que encomendar:
sou poetisa encartada,
versifico qualquer tema,
faço trova, ode ou poema,
rimo por tudo e por nada.

Faço versos a granel,
ao litro, ao metro, ao quilate,
ternos bolinhos de mel,
bravos galos de combate…
Numa folha de papel,
escrevo tese ou disparate,
em letrinhas de hidromel,
de cicuta ou erva-mate…

Peço a Lili p´ró Manel,
trato divórcio ou engate,
do velho faço donzel,
fel transformo em chocolate…
Da choupana faço hotel;
do albardeiro, alfaiate;
o tolo armo em bacharel,
o recruta em coronel,
e ao Rei… dou xeque-mate.

(Tenho encomendas a rodos,
não posso fazer mais nada…
Poetas querem ser todos
que é casta mui ilustrada…
E lá lhes mostro bons modos,
vou aumentando a mesada,
à custa destes engodos
de "poesia alugada"…)

Amigo, amiga, não esperes,
deixa o teu nome e morada,
irei ter onde estiveres,
com a caneta afiada…
Se dinheiro não tiveres,
aceito a alma empenhada,
se os versos não entenderes,
faço versão ilustrada…
Ponho em verso o que quiseres,
cativo homens e mulheres,
arranjo empregos, mesteres,…
e não pagas quase nada!...

(L.N. 98)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006

Rosa de Duas Cores

Como admirar nos havemos
de ser esta humana Vida
tão diversa em seus favores,
tão repleta de incerteza,
tão vária, tão dividida...
Se, na própria Natureza,
a rosa tem duas cores?
***
(L.N. 1995)