quinta-feira, 27 de março de 2008

O FILTRO D´AMÔR



Caros Amigos e Amigas

Hoje, Dia Mundial do Teatro, ponho à disposição na Internet, mais como curiosidade do que como obra teatral, a comédia musicada "Filtro d´Amôr", escrita por meu Pai em 1941 e que já foi publicada em fascículos n´ "O Quintal do meu Pai", o ano passado.
Esta peça nunca foi representada, tendo sido apenas lida em voz alta pelo Autor no antigo Teatro Luísa Todi (hoje Forum), perante o empresário do mesmo à época. Este não levou a peça ao palco, por receio que não atraísse muito público e também por ser musicada, o que implicava alguns elementos do elenco terem de cantar e/ou tocar…

Dado o muito mau estado do original, dactilografado e do qual podem ver as cinco primeiras páginas, foi-me necessário reescrevê-lo de raiz no Word. Também utilizei a Ortografia actual, nomeadamente retirando bastantes acentos circunflexos, pois nesse tempo até AMÔR o levava... bons tempos!!! Já não há AMÔR como o de antigamente... e muito menos filtros que o estimulem !... Então, se quiserem dar uma vista de olhos, cliquem em


O FILTRO D´AMÔR

Infelizmente no PDF perderam-se alguns caracteres e formatos de letra usados no DOC.




"Joujou e Balangandans"
Lamartine Babo, 1939
(Canção Brasileira contemporânea da peça)



ENTÃO, BOA NOITE DE TEATRO!



E caso detectem alguma gralha, agradeço que deixem nota nos comentários.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Aceita esta Valsa
(Tradução livre de
Take this Waltz)

Valsa Vienense

Em Viena há dez mulheres belas.
Há um ombro onde a Morte vem chorar.
Há um átrio com novecentas janelas.
Há uma árvore onde morrem as pombas,
quando já não conseguem voar…

Há um pedaço arrancado à manhã
suspenso na Galeria Gelada…
Ay… ay ay ay
Aceita esta valsa, esta valsa, esta valsa,
apesar da boca amordaçada.

Ah, eu quero, quero, quero ver-te
numa cadeira, lendo um jornal sem cor…
Numa gruta na ponta de um lírio,
num atalho onde não foi o amor…

Numa cama onde a Lua suou,
num grito de areia e pegadas…
Ay… ay ay ay
Aceita esta valsa, esta valsa, esta valsa,
cinge-a pela cintura quebrada…

Esta valsa, esta valsa, esta valsa, esta valsa,
com o seu hálito de brandy e Morte,
arrastando a cauda no mar…

Há uma sala de concerto em Viena,
onde a tua boca mil vezes cantou…
Há um bar onde os jovens se calam
porque o blues à Morte os condenou…

Ah, mas quem ousa escalar o teu retrato
com a coroa de lágrimas que acabou de tecer?
Ay… ay ay ay
Aceita esta valsa, esta valsa, esta valsa,
há tantos anos que ela anda a morrer…

Há um sótão onde brincam as crianças,
breve lá nos amaremos, tem de ser…
num sonho emoldurado por lanternas húngaras,
na neblina doce de um entardecer…

E verei que à tua tristeza acorrentaste
o teu rebanho e os teus lírios de neve…
Ay… ay ay ay
Aceita esta valsa, esta valsa, esta valsa,
com um “não te esquecerei, sabes?”, breve.

E dançarei contigo em Viena
e hei-de ir disfarçado de rio,
um jacinto selvagem no ombro,
e minha boca, lenta, bebendo
nas tuas coxas o orvalho frio.

E sepultarei a alma num velho livro
entre o musgo, lembras-te?, e as fotografias…
e à cheia da tua beleza lançarei
o meu violino barato e a cruz
onde me crucifico todos os dias…

E dançando haverás de levar-me
aos lagos que te brotam dos pulsos…
Meu amor, meu amor,
aceita esta valsa, esta valsa, esta valsa…
É tua agora. E é tudo.
**********

Poema original Pequeño Vals Vienés de F. García Lorca

Versão Inglesa e música - Leonard Cohen

Tradução livre da versão Inglesa - Aspásia 1995

sexta-feira, 21 de março de 2008

PPPP
Pai... Primavera...
Poesia... Páscoa....

Já repararam que andamos em maré de dias P ???

Dia 19 foi Dia do Pai.
Ontem começou a Primavera...
Hoje é dia da Poesia e 6ª feira de Paixão (para os católicos).
E no Domingo é a Páscoa!!!

Hmmmmm... será que tudo isto dará para fazer um Post 5 em 1 ??? Juntando todos os P !!!...

Piece of cake! Publicando aqui um Poema de meu Pai, que com ele concorreu - há 67 anos! - aos Jogos Florais da Primavera realizados em Setúbal, em 18 de Abril de 1941, organizados pela Associação dos Antigos Alunos da Escola Industrial e Comercial “João Vaz”, tendo obtido o 1º Prémio em Soneto Clássico.

Aproveito também "andar com a mão na massa" pois ando a organizar e informatizar toda a poesia de meu Pai, desde os anos 30 até hoje! (Por isso tenho andado com falta de tempo para vos visitar... e meu Pai apesar de estar de óptima saúde agora, já vai fazer 94 anos em Junho. Por essa altura eu queria ter a peça de teatro dele, que já foi publicada no "Quintal" em capítulos, em PDF na Net. E um livro com os poemas dele.)

Quanto ao dito Soneto refere-se à Paixão de Cristo ou seja... à Páscoa.

Apesar de o autor ser ateu, lá versejou e declamou o trabalho de modo a fazer inveja a muito crente... inclusivamente um senhor padre lhe perguntou como podia um ateu fazer uns versos assim! O padre, pelos vistos, não sabia que o Poeta é um fingidor...


Redenção

A Treva cai na Terra e vem impôr
pesado luto à turba que emudece.
No Gólgota, escalvado, a Cruz parece
a trágica visão da própria dor.

Crucificado, exangue, o Redentor,
de espinhos coroado, a Vida oferece,
em Santo Sacrifício, que trouxesse
a salvação ao Mundo pecador.

Debalde, ó lei humana, condenaste
Aquele que pregou a Lei dos Céus
e com ferro assassino O trespassaste!

Jesus rasgou da Morte os negros véus
e vencendo a mentira que afirmaste,
deu a Verdade ao Mundo: a Fé em Deus!

R. C. Nascimento

Setúbal, 1941


A metade superior da página de O Setubalense, referindo os Jogos Florais de 1941. No fim da 2ª coluna menciona-se o prémio atribuído ao autor, no cimo da 4ª coluna está o soneto. Na 3ª coluna, pode ler-se "No fim, dansou-se." (ainda se escrevia com s)...
(Cliquem para aumentar

Neste caso a falta de hábito... fez o monge, não acham?


BOA PÁSCOA PARA TODOS !!!

quarta-feira, 19 de março de 2008

DIA DO PAI 1966

O QUE A GENTE SE FARTAVA DE TRABALHAR PARA O DIA DO PAI!!! FAZER ISTO TUDO AOS 8 ANOS, ERA EXPLORAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL!!!


"Ofereço este dia de trabalho ao meu Paizinho..."


Já aos 8 anos me lembrava de quando era pequenina!!! E a principal qualidade do Pai era comprar coisas e brinquedos...



Na História, só me podia sair a Rainha Dª Leonor, claro!... Uma senhora muito virtuosa que dedicou inteiramente a vida à prática do bem... ;)





O famoso "homem na Lua com um molho de silvas às costas"... as crianças de hoje sabem o que são silvas? Devem responder que são os vizinhos do lado...



Meio quilo de amêndoas por 27$50 em 1966?


Que roubalheira!...




As famosas multiplicações e divisões por 10, 100, 1000, 0.1, 0.01, 0.001... destas tenho saudades!!!




No trabalho manual não era lá muito criativa, convenhamos...

BEM, CHEGO À BRILHANTE CONCLUSÃO QUE ESTE ANO TIVE MAIS TRABALHO A FAZER ISTO QUE EM 1966...

MAS O MEU PAI MERECE!




BOM DIA DO PAI ! E DOS FILHOS, JÁ AGORA...



segunda-feira, 17 de março de 2008

MARIA PRIMAVERA



Dedicado à Maria, primeira neta da Sophiamar.

Primavera pequenina
és um sonho cor de esperança!
Hás-de ter cheiro a bonina,
hás-de ter flores na trança!

Serás flor da maresia,
o mar será teu amor
pois tua Avó é Sophia,
e o Mar ama com ardor!

Recebe um beijinho meu,
nos braços de tua Avó,
ela está como no céu,
e o sonho que recebeu
partilha com todos nós!

Aspásia 08


sexta-feira, 14 de março de 2008

Maré Nova



Basta de tormentos
e basta de mágoas,
quero novos ventos,
busco novas águas.

Não quero estagnar
em águas paradas.
Quero é arribar
a praias douradas.

Eu sou maré-viva
não pântano morto.
Não sou agressiva,
procuro bom porto.

Águas de cristal
são as que transporto.
Se me querem mal,
eu pouco me importo.

Não quero misturas
com charcos de lama.
Das águas mais puras,
só serei a Dama.

Tempestade fui,
bonança serei.
Na maré que flui
a paz encontrei !


Aspásia 07


Torna a Sorriento

sábado, 8 de março de 2008

MULHER

Apesar de já muitos de vós o conhecerem, hoje, Dia da Mulher, republico este poema.

Ofereço esta rosa vermelha do meu jardim (desenhada aos 16 anos)
a todas as Amigas que a quiserem levar!

Mulher é vasto conceito
Mas direi, num improviso:
É nada, quando dá jeito;
Faz tudo quando é preciso.

É Filha da sua Mãe,
É Neta da sua Avó
Às vezes sente-se bem
Às vezes sente-se só.

É Irmã do seu Irmão
Sobrinha da sua Tia
E varre à noite do chão
O lixo de cada dia.

É Aluna do seu Mestre
É Colega e Companheira
Ora trabalha ao semestre
Ora vai vender p´rà feira.

Amiga da sua Amiga
Amante do seu Amor
De dia apanha espiga
À noite abre-se em flor.

Enfermeira no hospital
Ou 2ª Mãe na creche
Ora a Morte vê, fatal,
Ora o bebé que remexe.

Artista, Diva ou Escritora
Desconhecida ou genial
Engenheira, Professora,
Pode dar Bem e haver Mal.

Também como não é santa
Muitas asneiras comete
Mas se tiver força tanta
Corrige-se e não repete.

Pode ser que seu Amor
Seja o seu Homem também
Se por acaso não fôr
Pode escolher outro Alguém.

Pode ser que seja rica
Pode ser que seja pobre
Que vá buscar água à bica
Ou pinte no salão nobre.

E se um dia fôr Avó
Mãe pela 2ª vez
Pode desatar-se um nó
E fazer o que não fez.

Pode sempre viajar
Ou d´aldeia não sair
Mas se amar, rir e cantar
Mundos há-de descobrir.

E se às vezes se vir só
De todos abandonada
Ficará de meter dó
Se não fôr desenrascada.

Um dia velha e cansada
Vai-se embora desta guerra
Mas se amou e foi amada...
Será semente na terra.

Aspásia 07

segunda-feira, 3 de março de 2008

ROXANE


HÁ BASTANTES ANOS, GOSTEI TANTO DO FILME CYRANO DE BERGERAC, BASEADO NA PEÇA DE EDMOND ROSTAND, QUE ME DEU PARA TENTAR UMA CONTINUAÇÃO EM VERSO, NAS DUAS LÍNGUAS, EM QUE A BELA E SAUDOSA ROXANE RELEMBRA O PASSADO EM QUE CONHECEU O GRANDE "BORDADOR DE PALAVRAS", MAGNIFICAMENTE INTERPRETADO POR DÉPARDIEU. VOICI LE RÉSULTAT... AVEC VOTRE PARDON, MONSIEUR ROSTAND!!!

R O X A N E

(ou La Posthume Passion)


Je suis Roxane, "fille" de Rostand...
Jadis, je scintillais... on savait bien
qu´aux bals, aux fêtes, j´étais la plus aimée...
Mais aujourd´hui, je le crois, cependant,
si des gens parfois j´occupe la pensée,
c´est que d´ âme unique je fus l´amour trop grand...

Quelqu´un, oui... de Bergerac appellé,
son prénom, Cyrano...
Le brave Gascon que cette nuit fatale
de la main de sombre fiancée fût emmené,
en funèbre cortège nuptial,
jusqu´à profond et froid, affreux autel...
Et moi, aveugle pendant des années,
vois maintenant les eaux sur moi jaillir,
les eaux de douleur de l´ancien Léthé...

Et ce fût dans l´ombre, déjà crépusculaire,
que sur moi, comme une épée, tomba la vraie lumière!
En voyant son rouge sang, tout lentement,
les arbres arroser, les roses du jardin...
Alors soudain je compris l´amour si fou et ardent
dont les mêmes flammes m´envahissent, à présent!

Quelle immense perte, quel malheur!
Ne m´avoir avoué un tel amour
qu´en "lisant" la vieille lettre, sue par coeur,
seulement quand de sa mort il fût bien sûr!

Que d´années écoulées... et moi,
du monde eloignée et si souffrante...
Croyant aimer encore - ou rappeller? - Christian...
L´ayant perdu et sa veuve rester, fidèle, aimante...
quand, il y a bien courtes heures, ce matin,
de Cyrano la cristaline source coulait, cette pûre âme
qui lui prêtait son esprit... ses paroles... sa flamme!

Cyrano, qui de mon amour se crût indigne
par des dons de physique beauté, pas en avoir!
Et maintenant qu´il me laisse, il me fait voir:
c´est mon âme qui est pas digne de la sienne,
qui, pour me plaire, brûlait en déséspoir!

Pauvre folle... donc, c´était bien Cyrano que tu aimais!
Car de lui venaient l´esprit et les paroles...
Tendre musique que tes sens enivrait!
Ces diamants précieux, éclats d´un coeur
de que Christian n´était que le porteur...
Mais qu´en étant beau, tu aimer croyais!

Ah, Cyrano, mon grand amour, le vrai...
Tendrement écoute la prière que je fais:
attends-moi tout sereine et doucement
pendant que tu parcours cet espace étoilé,
car près de toi je serai bien courtement,
nos âmes enfin unies à toute éternité!

Amis, je suis Roxane... Roxane? Encore??
Hélas, non... Roxane fût la belle qu´aima Cyrano
elle n´y est plus puisque Cyrano est mort...
Et celle que voici, une ombre dans la brume,
Celle... genoux par terre, l´âme toute en morceaux,
autre femme sera... ou même femme aucune...

Car de Roxane il ne reste qu´un coeur sans prénom -
déchiré dans l´angoisse de posthume passion...



R O X A N E

(ou A Póstuma Paixão)

Sou Roxane, "filha" de Rostand...
De vós, alguns me conheceram bem,
(outros me terão, talvez, até amado...)
A maioria, creio, no entanto,
de mim terá apenas recordado
ter sido eu o grande amor de alguém...

Alguém, sim... Cyrano..., de Bergerac chamado,
Cyrano que esta noite tão fatal
pela fria mão da morte foi levado
até ao negro, tenebroso altar,
em funesto passeio nupcial...
E eu, cega durante tantos anos,
vejo agora a fonte em mim brotar
do triste Letes, rio dos desenganos!

Naquela escuridão crepuscular de há pouco,
é que a luz verdadeira eu atingi enfim!
ao ver seu sangue rubro, lentamente,
invadindo os canteiros das rosas, no jardim...
Então é que percebi aquele amor tão louco
que agora ateia igual incêndio em mim...

Que imenso desencontro, por meu mal!
Só me ter declarado seu amor
fingindo ler a carta, que sabia de cór,
quando a certeza de morrer teve afinal!

Tantos anos... e eu
retirada do mundo e tão sofrida...
Pensando amar (ou recordando apenas?) Christian...
Vivendo até agora neste engano,
quando ainda há poucas horas, de manhã,
corria a bela fonte que lhe dera vida:
o espírito, as palavras de Cyrano!

Cyrano, que de meu amor se cria indigno
por não possuir dotes de física beleza!
E agora, que me deixa, creio e digo,
minh´alma não ser digna de tal alma
que, por me alegrar, vivia na tristeza!

Pobre louca, afinal era a ele só que amavas!
Porque dele vinham o espírito e as palavras
quais preciosas jóias, cintilações do amor,
de que Christian era, apenas, portador...
Mas, que por belo ser, tu amar julgavas!

Assim, meu bem-amado que já me vês do Além,
esta terna súplica te faço:
espera tu por mim, serenamente.
enquanto percorres o sideral espaço...
Pois a ti espero unir-me brevemente,
na eternidade juntos em imortal abraço!

Amigos, sou Roxane... Roxane? Ainda??
Não, Roxane era a bela que Cyrano amou
e não pode existir se Cyrano morreu...
E esta que aqui vedes, envolta na neblina,
esta que as mãos aperta e a cabeça inclina
outra mulher será... outra, que não eu...

Pois de Roxane resta apenas o triste coração -
dilacerado nas ânsias da póstuma paixão...


Aspásia 94

Excertos da banda sonora de Cyrano