segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

Aspásia de Mileto mandou postal



A minha homónima da Grécia Antiga mandou-me um postal. Aqui está ela no jardim tentando salvar as suas queridas flores da neve que inopinadamente caiu hoje em Mileto.
* * *
Saudações, Aspásia do Sec. XXI!
Também me chamo Aspásia, mas vivi de 470 – 410 a.C..
Nasci em Mileto, na Ásia Menor e fui educada por meu pai. Fui para Atenas para completar a minha educação. Uma vez que era estrangeira, não ficava restringida às actividades domésticas impostas às esposas dos atenienses.
Tornei-me professora de retórica e nos “Diálogos“ de Platão está registado que eu ensinei Sócrates. O meu salão é frequentado por líderes intelectuais da Polis e na nossa tertúlia discutimos política e temas científicos.
Embora eu não seja uma matemática o meu uso da lógica e do raciocínio dedutivo ajudaram a criar um ambiente onde os matemáticos se desenvolvem e prosperam.
Sou amante de Péricles, o líder político e militar de Atenas e diz-se que sou eu a escrever muitos dos discursos pelos quais ele é tão famoso, mas isso são as más-línguas. Infelizmente não podemos casar pois eu sou estrangeira. O nosso filho tem agora quatro anos e já mostra grande curiosidade por tudo o que o rodeia. Em breve chamarei Tirésias para seu perceptor.
Vê bem o que aconteceu hoje! Fui visitar meu pai a Mileto e de manhã começou a nevar, o que já não sucedia há 52 anos, segundo diz meu pai. Tinha acabado de acordar e corri ao meu querido jardim, sem sequer me cobrir com um manto, para salvar algumas begónias e narcisos da neve impiedosa... Espero é não me constipar, pois Asclépio foi visitar Hipácia de Alexandria, que o chamou há três semanas devido a umas enxaquecas que muito a atormentam. Também com o trabalhão que aquela biblioteca lhe dá, não me admiro.
Tu dizes que agora há bibliotecas desse tamanho que cabem todas num pauzinho chamado stick, mas um dia tens de me explicar isso com mais vagar. Bem, da minha parte também mandei à Hipácia um chá de unha de morcego macerada em óleo de fígado de tritão, com que em tempos me dei bem, na altura do mestrado que fiz com o Platão e passava noites inteiras a ler as sebentas de Retórica, Lógica e Geometria.
Bem, cara amiga, por hoje não te maço mais.
Beijos para ti e teus amigos dessa estranha coisa a que chamas blog...

quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

Parabéns, Mozart!

Eis a minha prenda para o Wolfgang, que faz 250 anos no dia 27. É um prazer partilhá-la com todos vocês... de preferência com a sua música em fundo!
* * *
* * *
A M A D E U S

Sempre ouvir-te é sempre amar-te,
ó divino, ó talentoso
Wolfgang Amadeus Mozart,
pois da Música na arte,
foste génio portentoso.

Em teus anos de criança,
deslumbravas quem te ouvia;
e toda a aristocracia
nos belos salões de dança,
se curvava e te aplaudia,
perto do Lago Constança.

Aos seis anos já mostravas
juízo de mais idade,
falavas com gravidade;
ao cravo já te sentavas
e teu Minuete tocavas
com talento e habilidade!

As cortes da velha Europa
percorrias sem cessar,
foi tua música ouvida,
incensada e aplaudida,
desde Itália à grande Rússia,
pelo Doge e pelo Czar.

A meio da juventude,
é que eras mais malandrote,
gostavas mais de brincar,
pregar partidas, dançar,
e as donzelas, num virote,
estavas sempre a conquistar…

À Ópera que nos deixaste
deste a alma e a frescura.
“Mágica Flauta” sopraste…
Papageno e Papagena
os cobriste de verdura,
e Pamina com Tamino
levaste ao Céu da ventura.

“Don Juan” se precipitou
nas profundas do Danado,
pois à ceia convidou
− esse desplante ele ousou! −
o rival assassinado…
E, arrogante, blasfemou
do perdão que lhe ofertou,
do Comendador, a estátua
que tanto tinha ultrajado.

Tal qual o barbeiro Fígaro
foste também um “faz-tudo”.
Nas “Bodas”, era um Entrudo,
pois todos se disfarçavam,
se escondiam e aldrabavam…
Mas no final se abraçavam,
pois o Amor vence tudo.

Não deverá ser esquecido
um teu amigo, também,
Lorenzo da Ponte, a quem
a letra dessas histórias
devemos, e que, contigo,
está vivo em nossas memórias.

Sinfonias compuseste,
quase feitas de improviso,
tantas e de tal beleza
e alegria ao ouvido,
que, num dia mais agreste,
são capazes de a tristeza,
nos transformar em sorriso.

E foi tal teu frenesim
a compôr e ensaiar
dias e noites sem fim,
uma obra monumental
que te houvera encomendado
certo enviado do mal
− dizem que foi o Salieri,
mas não há prova de tal −
que as forças que te restavam,
pouco a pouco se esgotavam
nesse Requiem fatal.

Sim, foste o Amado de Deus,
mas os homens do teu tempo
negaram-te chão sagrado,
e à vala foste lançado,
tal qual fosses cão danado,
ou traste sem valimento…
Mas passado tanto tempo,
teu talento ainda dá brado
entre almas de sentimento;
e hoje és génio celebrado,
para sempre recordado,
da Música és monumento…
Wolfgang Amadeus Mozart,
de Euterpe és filho na Arte…
do Mundo és deslumbramento!!!
* * *

Curiosidade de Português e Matemática

Hoje, 25, no fim do Noticiário das 9 da manhã da Antena 1:
"Mas é sobretudo preciso estar bem agasalhado porque a cidade (Salzburgo) despertou hoje com menos 16 graus negativos."

Ainda bem que Mozart não era matemático...

sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

Em Época de Comícios...

Olá Amigos. Nesta época de comícios eleitorais, apresento-vos uma grande amiga minha:

DONA VICTÓRIA PRUDÊNCIA
*********************************
Dona Victória Prudência
da Circunspecção Cautela
é uma casta donzela
a transbordar de inocência.
***
Anteontem foi passear
e ouvindo certo bulício,
percebeu que era um comício,
pôs-se a ouvir discursar.
***
Um orador exaltado,
sobre um palanque de pinho,
discursava pró povinho,
que escutava embasbacado.
***
"Prudência!" - recomendava
em seus rasgos de oratória.
"Cautela!! Circunspecção!!!
E será nossa a vitória!!!"
***
Mas Victória, levantando
a mão como garra adunca,
grita, indignada: "Isso nunca!"
E sai fula, resmungando.
*****************************
Poema dos anos 30 ou 40 de autor desconhecido. Ensinou-mo meu pai, hoje com 91 anos.
Até um dia destes. Vossa, sempre, atenta, veneradora e obrigada,
Aspásia