Catedral de León (Espanha)
Olhando ao longe a planura,
numa manhã outonal,
ergue-se a alta figura,
– Pai-Nosso em arquitectura –
duma antiga catedral.
É visão inesquecível,
aguarela austera e pura.
Majestosa, imperecível,
por artesão intangível
talhada na pedra dura.
Acerco-me lentamente
e em grandeza vai crescendo.
Sobre a pedra que não mente,
olho mais atentamente,
velha inscrição desvendo.
Sé pelo Homem erguida
para dar a Deus sinal
de fé na Lei recebida,
é promessa nesta vida,
esperando na Vida imortal.
Lugar de meditação,
abriga no coração
a qualquer que nela entre.
Não vê cor ou condição
nem mesmo faz distinção
entre o crente e o não-crente.
Cruzando o largo portal,
entro, sem fazer rumor.
Coalhado dum vitral,
irisa a água lustral
um reflexo multicor.
Olhando ao longe a planura,
numa manhã outonal,
ergue-se a alta figura,
– Pai-Nosso em arquitectura –
duma antiga catedral.
É visão inesquecível,
aguarela austera e pura.
Majestosa, imperecível,
por artesão intangível
talhada na pedra dura.
Acerco-me lentamente
e em grandeza vai crescendo.
Sobre a pedra que não mente,
olho mais atentamente,
velha inscrição desvendo.
Sé pelo Homem erguida
para dar a Deus sinal
de fé na Lei recebida,
é promessa nesta vida,
esperando na Vida imortal.
Lugar de meditação,
abriga no coração
a qualquer que nela entre.
Não vê cor ou condição
nem mesmo faz distinção
entre o crente e o não-crente.
Cruzando o largo portal,
entro, sem fazer rumor.
Coalhado dum vitral,
irisa a água lustral
um reflexo multicor.
Sobre o altar principal,
em retábulo pintado,
o Anjo celestial
ergue a pedra sepulcral
a Jesus ressuscitado.
Oiço vozes de oração
que se elevam em espiral.
Pedirão, talvez, perdão,
ou tão só resignação
para tanta dor e mal.
O velho órgão harmoniza
um cântico angelical.
Não pede, não catequiza,
mas dá alma a quem precisa
– Sinfonia Pastoral.
Fôra eu crente e, talvez,
no meio desse coral
encontrasse a placidez,
esquecendo os mil porquês
da Ciência racional.
Assim, enquanto a visito,
não rezo, apenas medito,
banhada na luz claustral:
pudesse o caos inaudito,
ferro e dor, espanto e grito,
pesadelos do real,
dar lugar a um coral
– eco humano de Infinito…
e o Mundo enfim sem conflito,
mais perto do Ideal,
vogasse no mar infindo
do azul universal.
L.N. 96
"Allein Gott in der Höh´ sei Ehr" - J.S. Bach
(Otto Winter - Órgão)
22 comentários:
Por acaso já lá estive! Bem bonita a Catedral de Léon, mas o que gostei mais foi a Casa Botines e o Palácio Episcopal em Astorga, de Gaudi. Fantástico. Gostava de poder ir a barcelona ver o resto..
Magníficos versos!
... Sua estrutura sonora, palavras-flechas-à-alma, tudo muito bom de se sentir e tão difícil de dizer assim, em rima que é pintura.
E excelente tema, escolheste!
O barroco de Bach (o Sebastian, não o clássico Christian), como pano de fundo desta construção gótica apenas conhecia de nome!
Muito bem :-)))
* que apenas conhecia de nome
O mundo ultraterreno confesso que também me interessa, mas não acredito... Como não fazê-lo diante a luz dessa abóboda que conquistaste à História?....
Olá Aspásia,
Gostei muito do teu poema, especialmente da última estrofe. Já tenho sentido o mesmo.
Um beijinho.
Thora
Aúnque bien que te hice volver a esos bellisimos recuerdos...
Besos:)
APC
Grata pelos elogios a uma Aspásia com menos 10 anos, apesar de ter feito agora uns retoques na última estrofe...
Beijinhos barrocos;)
Frei Cecílio
É sempre bem-vindo a esta humilde capela, mesmo que disfarçada de catedral, e onde uma ateia vai tecendo a sua teia...
Orate pro mecum, frates...;))
Pamina
Es freut mich dass du hast geliebt, Freundin, ein bisschen Kathedrale Musik mit mir zu hören...
Gutes Wochenende Kusje:)
Não acredito que tenham mandado um frade orar para o Meco!!! :-(
;-)
APC
Ipso factum!!! Seria orate pro me, visto que mecum é "comigo"... isto por que me lembro daqueles livrinhos chamados "Vademecum" - vai comigo...
Assim para convidar um frade a ir ao Meco, será:
Frates, vade mecum ad Mecum!!! (solum pro orationes!)
;-))
Passei para te desejar bom fds e fiquei a ouvir outra vez a música. Fechando os olhos, dá quase para me imaginar em Óbidos, na Igreja de Santa Maria, a ouvir o rebento. Claro que o "teu" órgão é melhor e o organista também (sou uma mãe desnaturada:)).
Beijinhos.
Olá Pamina
Tudo é relativo... mas olha que o rebento também não vai nada mal, pelas amostras...
Goed Wochenende
Kusje
Ainda assim, a orar, a orar...
;-)
E era Meco, era Meco; não quero saber!
Et quod scripsi scripsi, prontxxx! (depois é o tanas para recuperar o status quo ante, lol).
Eheheh... Epistolae non rubescent, é o que nos vale! :-)
Renovo parabéns pela tua scientia bene dicendi, e despeço-me, sine die, com bjufas, ex corde.
APC
Malo, malo, malo, totum percorrere pontum, quam malo cum malis mandere, malo malis.
Trad.: Mais quero atravessar um mau mar num mau mastro [barco] do que comer más maçãs com más queixadas.
Frase aprendida com meu Pai e que lhe foi ensinada em tempos por um antigo latinista numa tertúlia num café que ficava ao Rossio, ao pé do Café Nacional.
Alea jacta est!
Ave, oscularum te, sores...;)))
aspásia
para quando um livro de poesia?
também achei imensa graça ao desespero da sua empregada, no murcon!
fiury
Eheheheheh
Calatita ficum! ;-)
Jokas &... Aparece. Os meus poemas não os poderás ler debaixo da romanzeira onde poisam os amores (e é pena), mas por entre a densa camuflagem, que se entreabre à passagem dos olhares atentos como o teu.
Fiury
Pois, esse livro está em embrião, mas metem-se tantas coisas... depois de 10 anos com problemas nos olhos, como descrevo no início do blog "Olho Seco", e da doença durante cinco anos de minha Mãe e seu falecimento, só no início deste ano tive melhoras suficientes a nível dos olhos e tempo para entrar neste reino da blogosfera... e ir mostrando alguns dos poemas, a maioria feita entre 1990 e 1998.
Entretanto meu Pai, apesar de gozar de bela saúde, está com 92 anos e tento recolher em formato digital alguma da sua obra no campo do Xadrez (composição artística e livros), Poesia e Música.
De modo que por enquanto o meu livro vai esperar mais um pouco e vou colocando poemas por aqui.
Obrigada pelas suas palavras.
Grande beijinho:))
Querida APC
Isto é que tem sido, um latinório!!! Em breve vou pôr uma coisa muito gira nesse campo...
Se quiseres, lê também o que eu disse à Fiury e compreendes que por vezes a razão das minhas visitas não serem tão assíduas como desejaria.
Então estes 2 dias passados fiz uma empreitada para acabar de ler "O Tempo dos espelhos" do nosso Prof. e hoje estou com algumas dores nos olhos. Para mim é pior ler papel que no PC, pois neste posso configurá-lo à minha maneira e caso necessário pôr o leitor de ecran... mas não podia esperar que o livro seja digitalizado.
E fiquei impressionada com o livro. Não fazia ideia do esforço que o JMV fez ao longo destes anos para nos mostrar sempre cara alegre, apesar das tragédias familiares que sofreu e ainda sofre. Todos as sofremos, em maior ou menor grau, é certo; apesar de tudo o caso de minha Mãe, sendo mau, não foi dos piores. O estado da Maria Clara, uma morte em vida é de facto impressionante. Felizmente ainda pude cumprimentá-la duas vezes e falar ao telefone uma vez.
Se não a ouviste cantar, recomendo vivamente. Era uma Senhora na Vida e na Canção.
Desculpa este desabafo que não vimha muito a propósito.
Um grande beijo e lá aparecerei, detrás de algum arbusto...;)
"tem sido um latinório"
"vinha"
Aspásia, obrigada pelas palavras.
Náo só conheço - e muito aprecio - o repertório de Maria Clara, como, ainda que muito indirectamente, algumas histórias do seu percurso. Desde que me iniciei nas esferas de que o JMV é tão ilustre ensinante, que sei quem foi a sua mãe (cá em casa sempre se ouviu, e já deves ter sentido que eu sou uma menina que mistura épocas, lol), mas nunca o evidenciei no Murcão, não só porque tal não se oferecia por pertinente, mas, sobretudo, precisamente porque o tema é sensível e íntimo ao/do seu filho, um homem "cheio" de coisas tantas, que vai dando à mendida que sabe, pode e quer.
O que me dizes - sobre o livro, sobre tudo isto - é para mim uma novidade, pois envergonhadamente assumo que desconhecia o seu teor, ainda que há muito esteja para o adquirir, ademais tendo em conta os comentários que vou lendo. O respeito imenso já cá estava, mas em muito contribuis para a urgência da minha vontade em lê-lo.
"Perdoo-te" este e quaisquer outros desabafos, porque assim é que é! Assim é que somos! :-)
Força com as tuas coisas & um grande abraço.
Gostei imenso do poema, Aspásia.
Espero poder vir a ler muitos mais.:)
Entretanto deixo-te um beijinho e o desejo de um óptimo fim-de-semana.
Once upon a time there were four little Rabbits, and their names were-- Flopsy, Mopsy, Cotton-tail, and Peter.
They lived with their Mother in a sand-bank, underneath the root of a very big fir-tree.
"Now, my dears," said old Mrs. Rabbit one morning, "you may go into the fields or down the lane, but don't go into Mr. McGregor's garden: your Father had an accident there; he was put in a pie by Mrs. McGregor."
"Now run along, and don't get into mischief. I am going out."
Then old Mrs. Rabbit took a basket and her umbrella, and went through the wood to the baker's. She bought a loaf of brown bread and five currant buns.
Flopsy, Mopsy, and Cotton-tail, who were good little bunnies, went down the lane to gather blackberries;
But Peter, who was very naughty, ran straight away to Mr. McGregor's garden, and squeezed under the gate!
Good morning
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