segunda-feira, 24 de março de 2008

Aceita esta Valsa
(Tradução livre de
Take this Waltz)

Valsa Vienense

Em Viena há dez mulheres belas.
Há um ombro onde a Morte vem chorar.
Há um átrio com novecentas janelas.
Há uma árvore onde morrem as pombas,
quando já não conseguem voar…

Há um pedaço arrancado à manhã
suspenso na Galeria Gelada…
Ay… ay ay ay
Aceita esta valsa, esta valsa, esta valsa,
apesar da boca amordaçada.

Ah, eu quero, quero, quero ver-te
numa cadeira, lendo um jornal sem cor…
Numa gruta na ponta de um lírio,
num atalho onde não foi o amor…

Numa cama onde a Lua suou,
num grito de areia e pegadas…
Ay… ay ay ay
Aceita esta valsa, esta valsa, esta valsa,
cinge-a pela cintura quebrada…

Esta valsa, esta valsa, esta valsa, esta valsa,
com o seu hálito de brandy e Morte,
arrastando a cauda no mar…

Há uma sala de concerto em Viena,
onde a tua boca mil vezes cantou…
Há um bar onde os jovens se calam
porque o blues à Morte os condenou…

Ah, mas quem ousa escalar o teu retrato
com a coroa de lágrimas que acabou de tecer?
Ay… ay ay ay
Aceita esta valsa, esta valsa, esta valsa,
há tantos anos que ela anda a morrer…

Há um sótão onde brincam as crianças,
breve lá nos amaremos, tem de ser…
num sonho emoldurado por lanternas húngaras,
na neblina doce de um entardecer…

E verei que à tua tristeza acorrentaste
o teu rebanho e os teus lírios de neve…
Ay… ay ay ay
Aceita esta valsa, esta valsa, esta valsa,
com um “não te esquecerei, sabes?”, breve.

E dançarei contigo em Viena
e hei-de ir disfarçado de rio,
um jacinto selvagem no ombro,
e minha boca, lenta, bebendo
nas tuas coxas o orvalho frio.

E sepultarei a alma num velho livro
entre o musgo, lembras-te?, e as fotografias…
e à cheia da tua beleza lançarei
o meu violino barato e a cruz
onde me crucifico todos os dias…

E dançando haverás de levar-me
aos lagos que te brotam dos pulsos…
Meu amor, meu amor,
aceita esta valsa, esta valsa, esta valsa…
É tua agora. E é tudo.
**********

Poema original Pequeño Vals Vienés de F. García Lorca

Versão Inglesa e música - Leonard Cohen

Tradução livre da versão Inglesa - Aspásia 1995

7 comentários:

Isamar disse...

Lindíssimo poema, amiga! Garcia Lorca, Pablo Neruda, Benedetti... e muitos outros, há muito que me apaixonaram. Leio, releio, traduzidos ou na própria língua.

Bem Hajas!

Beijinhosssss

Teresa David disse...

Lorca em todo o seu esplendor. como gosto da poesia dele!
Bjs amigos
TD

butterfly disse...

Obrigada por partilhares connosco tão belo poema, que dá vontade de ler,reler e voltar a ler de tão belo que é :)
beijinhos

NARNIA disse...

QUE CONJUNTO BELISSIMO!
E LEONARD COHEN... (ADORO)FIQUEI AQUI A OUVIR A MUSICA E A SONHAR :)

ELE VEM A PORTUGAL BREVEMENTE

AMIGA BEIJINHO GRANDE

vero disse...

Amiga, vai visitar-me ;)
Beijinhos***

Jorge P. Guedes disse...

A música, ouço-a quase diariamente na minha selecção musical do sino.
O poema é muito bonito e a tradução, retirando naturalmente beleza ao texto original de Lorca, é uma boa tradução, tal como a inglesa da canção desse gigante Cohen.
Um bom momento, e com originalidade ainda para mais.

Um abraço.
Jorge P.G.

Gasolina disse...

Gostei muito.
(De Cohen nem um pouco que não aprecio)

Mas a tua adaptação livre tem uma tradução que me encantou!

Beijos Jardineira

PS.: Ando sem tempo... mas ainda vou arranjar e cá me apanhas de novo!