quarta-feira, 12 de setembro de 2007

ENTRE CIÊNCIA E PAIXÃO (1994)

Minerva


(Volto hoje a repescar neste Blog um dos antigos Posts/Poemas... este adaptado de um Post que dediquei a António Gedeão aquando do seu 100º Aniversário em Novembro passado).

(...) Posso dizer que desde os bons tempos do Liceu Filipa de Lencastre, a Física foi a disciplina que mais me fascinou, tendo concluído o antigo 7º ano com média de 19 a Física, a nota mais elevada que alguma vez tive. E claro que esse fascínio perdura até hoje... tendo meu Pai, autodidacta também nesta ciência, nomeadamente na Física Relativista de Einstein, muito contribuído para esta minha paixão. Havendo cá em casa muitos livros sobre Einstein e a Relatividade, nos tempos do Liceu devorei-os quase todos. De facto terei lido ao longo da vida tanto de literatura "científica" como "literária"...
Também recordo, aí pelos meus 7 ou 8 anos, de ver meu Pai a construir uma maquineta com tubos de alumínio e ímanes, onde por umas calhas deslizavam umas bolas de metal pesadas e brilhantes que ainda por aí andam... destinava-se este engenho a obter o moto perpétuo... eu, claro, passei uma fase em que não largava os ímanes e as bolas de metal de vários tamanhos... infelizmente, o Pai não conseguiu o movimento perpétuo... mas foi uma boa tentativa!
Assim, achei por bem e sendo a Poesia outra das minhas paixões, dedicar ao Físico Rómulo de Carvalho e ao Poeta António Gedeão - que também me inspirou a fazê-lo - um poema já com uns bons anos, onde tento, através da Paixão pela Ciência, chegar à Ciência da Paixão.


Entre Ciência e Paixão

Espantoso mal me atingiu
um dia, quando não esperava;
tudo o que é Lei infringiu,
toda a Razão me fugiu
e hoje, do Amor sou escrava.

Vou entrar em confidências:
resposta para este Amor
fui procurar nas Ciências;
interrogar sapiências
de físico e pensador.

Ai de mim! Para mal meu,
não explicam esta paixão
nem Freud, nem Galileu,
nem Einstein, nem Ptolomeu,
nem mesmo o próprio Platão!

Corri então os poetas,
li romances com afã;
vidas de heróis e ascetas;
teatro de marionetas,
de Molière e de Rostand...

Continuei, pressurosa;
li Voltaire, li Descartes,
Nietzsche, Cervantes, Espinoza...
Qualquer poesia ou prosa,
filosofia ou arte.

Corri todos os museus,
exposições e concertos.
Vi Picasso, admirei Zeus,
ouvi Wolfgang Amadeus -
obras completas e excertos...

Estudei as religiões,
tantas quantas achar pude;
e fiz peregrinações,
jejuns e meditações...
Li a Bíblia e o Talmude.

O Alcorão li também,
e, para salvar a alma,
dei esmolas, fiz o bem;
mas não pude encontrar quem
me restituísse a calma...

Procurei na Biblioteca,
do Mar Morto, os manuscritos;
mas, mesmo virada a Meca,
não me surgiu um Eureka!
da leitura desses escritos...

Estudo a Pedra de Roseta,
já sei Sânscrito e Latim,
vão correndo a ampulheta
e a clépsidra obsoleta
nesta pesquisa sem fim...

Quer de noite, quer de dia,
devoro, afincadamente,
Matemática, Poesia...
História e Antropologia
leio até ficar doente...

Já ninguém me reconhece,
nem pais, nem primos, nem tias.
O tino já me falece,
já tenho a espinha em s
e subi dez dioptrias!

Ao microscópio analiso
as lágrimas que chorei...
E um relatório conciso
cada noite realizo
das penas que suportei.

E, telescópio na mão,
noite alta, no firmamento,
procuro a constelação
que se encontra em conjunção
com Vénus, nesse momento...

Infelizmente, porém,
não ponho fim neste enigma;
não resolvo esta equação;
e, nem por integração,
acho alfa, gama ou sigma...

Desde a Relatividade
à Teoria do Eu,
procurei com ansiedade
descobrir uma Verdade
que me tirasse do breu.

Já vi no televisor
tudo o que é curso em cassette;
sei operetas de cór;
fui para o computador
e liguei-me à Internet...

Apesar desta procura,
continuei ignorante;
de Amor, o mal não tem cura
e eu, que era tão segura,
vivo hoje periclitante...

E, fartas do turbilhão
que me avassala por dentro,
a Cabeça e a Razão
ordenam ao Coração
que mate este sentimento.

O Coração, no entanto,
responde: "Procurai mais!
Apesar desse quebranto
não me tireis deste encanto
em que também navegais..."

E presa nestes dilemas,
vasculho as Enciclopédias,
equaciono problemas,
demonstro leis, teoremas,
leio farsas e tragédias...

Com tanto estudo, afinal,
tirei três licenciaturas:
Quântica Medieval,
Genética Sideral
E Fisio-Literaturas!!!

E, apesar de não achar
para meu mal solução,
vou, para me graduar,
em breve, tentar tirar
Doutoramento em Paixão
...

Aspásia 94


8 comentários:

Menina Marota disse...

Foi bom reler-te!
Passei para deixar um beijinho, as mudanças já estão todas? :-))

tufa tau disse...

doutoramento em paixão?
tu bacharel dessa sorte
licencia-te em amor
com o grito do ipiranga
"amor ou morte"

Anónimo disse...

ó senhora de tal ais
a paixão, o amor procura
nesta busca andamos tantos
é uma perfeita loucura.

dizem que o amor é cego
porque não ser surdo ou mudo
já não ouvia mentiras
já não inventava tudo

Isamar disse...

O minha Querida Maria
Eu te leio com paixão
Estás cheia de sabedoria
E muito bem do coração

Vai repescando estes posts. É uma pena que os não dês a conhecer. Além de muito bonitos revelam quem é a Aspásia.

Beijinhos

ASPÁSIA disse...

*MM

A MUDANÇA JÁ ESTÁ... FALTA ARRUMAR OS TARECOS TODOS...TEM DE SER AOS POUCOS!

BEIJINHO MAROTO

*TT

JÁ FIZ O BACHARELATO,
TIREI LICENCIATURA,
DOUTOREI-ME... MAS O FACTO,
É QUE INDA NÃO ESTOU SEGURA !!!

(ACHO Q NUNCA SE ESTÁ ;]...

ASPÁSIA disse...

*PG

AMOR, Ó AMIGA QUERIDA,
PROCURA-SE TODA A VIDA
E PODE NÃO SE ENCONTRAR!
E UMAS VEZES FAZ FERIDA
OUTRAS... VEM CICATRIZAR...

BEIJINHO CICATRIZADO :)

*SOPHIA

NÃO ESTOU ASSIM TÃO BEM,
MAS INDA BEM QUE GOSTASTE...
OUTROS GOSTARAM TAMBÉM
DA POESIA E CIÊNCIA EM CONTRASTE!

BEIJINHO NaCl PARA O TEU MAR...

amigona avó e a neta princesa disse...

Minha querida amiga como foi bom passar por aqui...um beijo...grande...

PAH, nã sei! disse...

Houvesse mais assim... :)