
La luna nos buscó desde su almena,
cantó la acequia, palpitó el olivo.
Mi corazón, intrépido y cautivo,
tendió las manos, fiel a tu cadena.
Qué sábanas de yerba y luna llena
envolvieron el acto decisivo.
Qué mediodía sudoroso y vivo
enjalbegó la noche de azucena.
Por las esquinas verdes del encuentro
las caricias, ansiosas, se perdían
como en una espesura, cuerpo adentro.
Dios y sus cosas nos reconocían.
De nuevo giró el mundo, y en su centro
dos bocas, una a otra, se bebían.
* * *
almena - ameia(s)
acequia - regato
sábana - lençol
enjalbegar - caiar
acequia - regato
sábana - lençol
enjalbegar - caiar
* * *

António Gala, Poeta Andaluz do Amor
Poeta espanhol nascido em Córdova em 2 de Outubro de 1936, precisamente o ano da morte do grande Poeta também andaluz, Federico García Lorca, de quem até parece ter herdado o talento. Don António faz pois 70 anos este ano. É licenciado em Direito, Filosofia e Letras e Ciências Políticas e Económicas.
Tem cultivado todos os géneros literários, incluindo o jornalismo, a narração, o ensaio e o guião televisivo.
Obteve numerosos prémios, não apenas pela Poesia mas também pela seu valioso contributo ao Teatro e à Ópera ("Carmen, Carmen", 1976).
Os Prémios Calderón de la Barca, Nacional de Literatura, Adonais e Planeta, e a medalha de Ouro de Ubeda y Baeza foram os seus galardões mais significativos. É Doutor "honoris causa" pela Universidad de Córdoba e Prémio César González Ruano de Jornalismo por "Mis charlas con Troylo". En 1983 recebeu o "Libro de Oro", premio dos editores. Em 1989 foi galardoado com o Prémio Andalucía de las Letras e com o Prémio León Felipe aos Valores Cívicos.
Foi colaborador de "El País Semanal" durante muitos anos com séries de magníficas crónicas, nomeadamente as "Cartas a los Herederos" (posso afirmá-lo porque li bastantes).
Da sua obra poética destacam-se as seguintes publicações: «Enemigo íntimo», «Sonetos de La Zubia», «Poemas de amor» e «Testamento Andaluz».
Actualmente decorre na TVE o seu programa "El Loco de la Colina".
Em Portugal foi representada a sua peça "Samarkanda" (produção de Norberto Barroca) e tem um romance publicado, A Paixão Turca.

Disse António Gala, digno herdeiro da tradição árabe-muçulmana:
Olho os olivais, respiro fundo e sei que ainda estou vivo; que, de alguma maneira, estarei vivo sempre. E ponho-me a cantar em silêncio uma canção que não se aprende; o sangue sussurra ao ouvido cada sangue novo. Uma canção que repete que todo o ser é importante, porque sem ele a Natureza não seria como é, nem estaria completa. Todo o ser é uma gota de orvalho que dura o que dura a noite. Inextinguivelmente, a noite repetir-se-á e repetir-se-ão o orvalho e a erva e o primeiro plenilúnio de Dezembro sobre campos e praias. Porque a vida não se acaba nunca.
Porque o que uma vez sucedeu, sucede para sempre.
Aqui podem ler uma belíssima entrevista acerca do seu livro "El Dueño de la Herida" (2003)