quinta-feira, 26 de abril de 2007

Vinte Versos Sem Abrigo



Era um pobre coitado,
esfomeado, esfarrapado.

Vivia em qualquer lado,
quase sempre embriagado.

Fumava, de olhar parado,
um cigarro já fumado.

Dormia, muito enrolado
em cartão, no empedrado.

Certas noites, acordado,
olhava o céu estrelado.

Um dia, foi apanhado
a roubar no hipermercado.

Para a esquadra foi levado
por um guarda avantajado.

Estava devedor ao Estado;
ficou, pois, engaiolado.

Para não morrer de enfado,
lia um jornal atrasado.

Cumprido o mês estipulado,
lá saiu, desengonçado.

Mas nada tinha mudado,
e voltou ao mesmo fado.

Vagueou, desinteressado,
vendo chover no molhado.

Já noite, parou, cansado
e abrigou-se num beirado.

Do frio anestesiado,
escorregou, ficou deitado.

No silêncio enevoado,
divisou um embuçado.

“Pode arranjar-me um trocado?”
- perguntou, num tom cantado.

O vulto tinha parado
e olhava-o, apiedado.

“Pode arranjar-me um trocado?”
- repetiu, esperançado.

Sobre o rosto levantado,
recebeu um bafo gelado.

E caiu, morto, de lado,
sussurrando: “Obrigado”.
Aspásia



quarta-feira, 25 de abril de 2007

HORIZONTE PERDIDO


33 ANOS NAVEGANDO EM ÁGUAS TURVAS...
O IDEAL CADA VEZ MAIS PERDIDO NO HORIZONTE.
PODIA ANDAR EM RECTA, MAS PERDE O TEMPO ÀS CURVAS...
25 DE ABRIL? É SÓ NOME DE PONTE...
UNS PEDEM ESMOLA, ALGUNS BAIXAM A FRONTE,
MUITOS VIVEM PR´À BOLA... E O RESTO ANDA A MONTE!

33 ANOS


33 ANOS... PARA QUÊ?
OS IDEAIS DE ABRIL FORAM ABATIDOS.

ESTE É UM PAÍS CRUCIFICADO E O PROBLEMA É QUE NÃO VAI RESSUSCITAR AO 3º DIA...

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Enquanto Houve Tempo... - Nº 1


Margarida ensina a ler as meninas da aldeia - (As Pupilas do Sr. Reitor)
(Imagem escolhida por Aspásia)


Caros MJ, EnquantHouveTempistas e demais interessados...

Finalmente, consigo hoje dar início às mudanças do Enquanto Houver Tempo aqui para o Jardim, agora que começa a Primavera e já se pode estar aqui ao ar livre... :)

Esta Recordação é dedicada especialmente aos Professores que conheci no E.H.T.: além da autora MJ, a PAH NÃ SEI, O ALQUIMISTA e o JODI (de momento não me recordo de mais).

Apesar de eu mesma não ter comentado neste antigo Post da Mestra MJ, acho importante relembrá-lo, pois continua perfeitamente actual.

Como é difícil hoje em dia ser Professor... como vão longe os tempos das Pupilas do Sr. Reitor... hoje, na Escola, MATA-SE !!! Como sucedeu há poucos dias nos EUA...
Por cá ainda não se mata... espero que nunca suceda... mas o Professor muitas vezes é uma das vítimas preferenciais da nossa sociedade, em que a dificuldade das condições de trabalho tantas vezes gera o cansaço e a frustração, quando não mesmo a desistência e a doença...

Também escolhi recordar este Post pois há os que não conheciam a MJ nesse Tempo, Quando Ainda o Havia... e foi neste Post que surgiu o 1º Poema!!! (do Jodi) aparecido nos Comentários e que também acho importante ser reproduzido.

Então, para recordar ou ler em 1ª mão... dou a palavra à Patroa MJ!
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Terça-feira, Outubro 17, 2006


Desabafo...

Hoje estou mais azeda do que um limão verde. Não, não foi o vinagre da cabidela que comi ao almoço... Isso já teria passado com um anti-ácido qualquer.

Os professores estão em luta. Sou professora, logo estou em luta também. (Isto soou-me a exemplo de silogismo... :-)). Ao longo da minha vida, mais precisamente do meu percurso profissional, acreditei sempre nas lutas em que me envolvi. E, fazendo um flashback, reconheço que, através delas, consegui sempre algumas vitórias.

Hoje, pela primeira vez, sinto que estou a lutar ingloriamente. Perante a cegueira, a surdez, a insensibilidade e o autismo, é vão qualquer esforço para sermos vistos, ouvidos, compreendidos...
Então, se não acredito, o que me leva a lutar? A imensa revolta por me estarem a roubar o prazer de ensinar. Não há gritos e choros que, mesmo não apagando angústias, nos deixam mais leves por sentirmos que ainda nos resta essa "liberdade" de podermos usar a nossa voz e as nossas lágrimas?

A greve (ainda) é o nosso grito, ainda que ignorado por quem não nos quer ouvir.

Estamos a perder um dia de vencimento. Nos dias de hoje, é revoltante darmo-nos a esse "luxo".
Mas antes perdermos um bem material do que perdermos a diginidade que ainda nos resta.
posted by MJ at 17:44


1 Comments:

Jodi said...

Ser Professor… hoje!

Como é ingrata esta vida
Não por sentirmos pavor
Mas porque no dia-a-dia
Muito sofre o professor!

Aos alunos recebidos
Para cuidar e ensinar
Tratamos com mil carinhos
Conjugando o verbo amar.

O tempo diário com eles
É superior ao dos pais
Instruímos e educamos…
Não são relações banais!

Não bastava até aqui
Percorrer longas distâncias
Sem tempo para a família
Em dádiva às crianças

Gente menos correcta
Agredindo o professor
Invade a nossa escola
E provoca o desamor

E a nossa autoridade
Por alguns posta em causa
Dá lugar ao desespero
E ao desejo duma pausa!

Resta ainda ao professor
Mesmo com desconfiança
Assumir sua missão
Com rigor, perseverança!

Em função dos seus alunos
Viver a sua profissão
Dar um forte contributo
Pr’ o futuro da Nação!

18 Outubro, 2006 00:37


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Querida MJ, na altura não comentei... comento hoje. Enquanto Houver Professores, como tu, a Pah, o Alquimista, o Jodi... ainda há uma esperança para este Portugal... NÃO DESISTAM NUNCA!!!

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Enquanto Houve Tempo... - Nº 0


... fui esta Creada de Dentro desta Casa, em tempos de grande afluência, agora algo reservada aos olhares do Público em geral. É, agora, assim o entendeu a minha antiga Patroa, um local de Memórias e Saudade para os amigos mais íntimos que continuam por lá a reencontrar-se mesmo que seja para um simples Olá, estás bem?


Era de tal modo um prazer e uma alegria para mim trabalhar para esta Patroa - na foto acima durante um baile de Carnaval - e numa casa tão acolhedora, que me entretive lá em inúmeras tarefas desde receber Embaixadores e Reis estrangeiros no Hall, servir o chá e os bolos, levar visitas e cartas das Saletas para o Salão Principal, etc.. até à simples e derradeira tarefa de cada noite que era... fechar a porta e apagar a luz.

Também para dar bom aspecto e impressionar bem os visitantes, principalmente os estrangeiros que muito por lá apareciam, até Chineses, Japoneses e Russos, eu tentei sempre fazer boa sala a todos, nomeadamente com algumas fracas rimas que me vinham à cabeça na altura. Mas naquela casa não se faz distinção entre o Rei, o Alquimista, o Poeta, o Professor, o Trovador, o Sapateiro, o Padeiro, enfim recebi todos com as melhores maneiras, nem a Patroa me teria deixado lá ficar se assim não fosse.

De outras vezes teve a MJ a gentileza de publicar alguns versos meus de variegados estilos, no Salão de Festas Principal...

Também há por aí novos amigos que não frequentavam essa nobre Casa na altura e que estão curiosos por ter uma ideia do que por lá se passava...

Assim, inicio hoje uma nova rubrica "Enquanto Houve Tempo",
e irei fazendo umas mudanças daquela para esta casa, nomeadamente da muita tralha que lá deixei espalhada e talvez de algumas conversas entre mim, a Patroa e várias visitas da casa que muitas também se salientaram pelo brilho e humor dos comentários.
Por hoje, fecho a porta e apago a luz.


quinta-feira, 12 de abril de 2007

Mãe, já lá vão cinco anos...


É verdade, Mãezinha, já se passou tanto tempo depois daquela noite...

Vou-me sempre lembrando de ti todos os dias... e para mais agora que nas arrumações aqui em casa tenho encontrado muitos papéis, fotos, postais teus e a tia veio cá uns dias e andámos a ver roupas tuas para ela levar algumas. Tem de ir lá a um casamento em Évora e vai levar um saia-casaco teu.

Lembras-te de uma vez aquando de uns dias passados em Tróia, em 1992, entre a praia, Setúbal, o Ferry, os almoços de belo peixe grelhado na cidade ou por aqueles arredores? Havia um restaurante perto das Ruínas de Cetóbriga onde costumávamos ir e levávamos sempre os restos para alguns gatinhos que havia lá pelo complexo de Tróia.

Era Junho e calhou decorrer lá o Festróia, o festival anual de Cinema. No Encerramento do mesmo ia estar presente a Amália, que ambas amamos e que curiosamente nasceu no mesmo ano que tu (1920) e ainda partiu dois anos antes de ti.

Então lá fomos e assistimos ao descerrar de uma placa pela Amália, a quem também cumprimentámos, infelizmente não pude tirar uma foto desse momento.

De algumas fotos que tirei, aqui ficam duas, as únicas em que ficaste.



Aqui estavas a olhar a Amália, e também mais atrás o realizador José Fonseca e Costa cujo filho tinha sido teu aluno no Valsassina.



Como há tempos que não deves ouvir a Amália, isto julgo eu, que não sei se até não conversaram já lá onde estão... de qualquer modo trouxe uma canção dela para ouvirmos todas. Vais gostar de relembrar.

O Pai está um bocadinho trôpego, como deves calcular, mas lá vai sempre "lutando contra a maré" como ele diz... e à rua vai sempre de bengala. Felizmente a cabeça ainda trabalha melhor que muitas muito mais novas... ainda outro dia ao jantar disse as estações de combóio todas da Linha do Norte e os afluentes do Tejo, eu sei lá, e hoje "estabeleceu" que o número PI se chama assim, porque sendo interminável como irracional que é, começa no Paraíso e acaba no Inferno!...

O teu marido sempre foi destas ruminações... bem sabes o que foi cá em casa de engenhocas quando lhe deu para tentar conseguir o "moto perpétuo", com uns ímanes e umas bolas de metal que corriam numas calhas...

Ele e a Tia mandam beijinhos saudosos e eu também te deixo um grande beijinho, Mãe, e a canção da Amália.




Gaivota - Amália Rodrigues


quinta-feira, 5 de abril de 2007

LUGARES DA MINHA VIDA - I


AZULEJO EXISTENTE NO SALÃO DO TRANSATLÂNTICO ONDE SE EFECTUOU O MEU PRIMEIRO CASAMENTO.

(Este Azulejo foi-me gentilmente oferecido pelo Capitão do navio e, mediante uma magra alvíssara, estou disposta a emprestá-lo a nubentes que mo solicitem, com uma antecedência de 17 dias úteis).

(Foto Aspásia)


Marcha Nupcial
Mendelssohn
Int.: Gyros Quartet