sexta-feira, 25 de abril de 2008

Salvemos o Cravo de Abril!


Ó belo cravo de Abril,

querem fazer-te murchar.

Há para aí farsantes mil

que te querem pôr a andar.


Quiseste medrar, crescer,

num jardim de liberdade,

mas quiseram-te tolher(*)

e quebrar tua vontade!


Já te pisaram a haste

já te arrancaram a corola...

o sonho que idealizaste

quase se esfuma e evola.


Mas, cravo, não te amedrontes!

Outros há, que, sem temer,

por cidades, vilas, montes,

por muitos anos que contes,

não te deixarão morrer!


Aspásia 06 e 08



Canto do Amanhecer
Carlos Paredes

PS - O correcto seria "quiseram tolher-te" mas sacrifiquei a gramática à rima...

OUTROS POSTS MEUS SOBRE O 25 DE ABRIL

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Fui Buscar a Velha
Máquina de Escrever...

(Um dos primeiros Posts do meu blog musical A Flauta de Pã, em 2006... se a Máquina então já estava velha, agora está dinossáurica! )


O CopyWrite

Entramos hoje num registo musical bem-humorado. Assim, e com a ajuda dos meus dois gatinhos virtuais, o CopyWrite e o PianoCat (nas fotos), que queriam tocar para vocês, fui desenterrar ao sótão a velha "Máquina de Escrever" (de Leroy Anderson), e, enquanto eles tocavam, um, piano, e o outro máquina de escrever, decidi passar a limpo alguns ditos de espírito de vários compositores, (e entre parentesis os meus comentários a cada um). Não se escandalizem... nomeadamente com o último!


O PianoCat

* * *


Alessandro Marcello usava o pseudónimo arcádico de "Eterio Stinfalico".

(Se alguém descobrir o que significa Stinfalico, ganha um doce. Eu não consigo.)

Rossini dizia de Wagner – "este rapaz tem momentos inesquecíveis… mas horríveis quartos de hora".

(O relógio de Rossini devia atrasar-se muito...)

Débussy disse de Wagner: “ele foi um belíssimo pôr-do-sol, mas tomaram-no por uma aurora".

(Naturalmente porque esses tais sofriam de jet-lag...)

Richard Strauss disse: “Não sou um compositor de primeira. Mas, de entre os de segunda, decerto eu sou de primeira.”

(Também poderia ser de segunda, entre os de primeira... bastava enganar o revisor do comboio!...)

Richard Strauss classificava o maestro Bruno Walter de “imundo saco de farrapos piolhosos”.

(Neste caso só haveria um remédio: Quitoso Virtuoso. É o que eu uso para os gatinhos virtuais!)

Max Reger disse (ao telefone...), ao ler uma crítica a seu respeito: “Estou sentado na divisão mais pequena de minha casa, que é a casa de banho, com a sua crítica à minha frente. Pois pode acreditar que dentro de segundos ela estará atrás de mim.”

(Mas que grande malandrote!!! Era preciso ter... lat(r)ina...)
* * *


(As citações sobre os compositores foram respigadas de programas radiofónicos do grande divulgador da música clássica, António Cartaxo.



A Máquina de Escrever

Leroy Anderson (E.U.A.)

terça-feira, 15 de abril de 2008

Parabéns, Maria!

O bolo da Tia Nô para a festa da Maria

clicar para chegar para todos ;)...


QUERIDA MARIA !
ÉS ALEGRIA
RIMAS COM DIA
COM MARESIA
E FANTASIA!

FAZES UM MÊS
HOJE É TEU DIA
E O QUE VÊS
CRÊS FANTASIA!

HOJE ESTÁ DIA
DE VENTANIA
MAS POR MARIA
VEM CALMARIA!

OS OLHOS ABRES
CHEIOS DE ESPANTO
INDA NÃO SABES
QUE ÉS UM ENCANTO!

A TUA VÓ
VAI FAZER BOLO
UM PÃO DE LÓ
SÓ COM MIOLO

DE AMÊNDOA DOCE...
SÃO OS TEUS OLHOS,
MAS QUEM TE TROUXE
SONHOS AOS MOLHOS?

ESTOU AFASTADA
MAS IMAGINO
QUE ESTÁS DEITADA
COM MUITO TINO.

DORMES A SESTA
QUE ÉS BEBEZINHA,
E LOGO HÁ FESTA
PELA NOITINHA!

JÁ TENHO DE IR
VOU DE ABALADA...
VEJO SORRIR
A AVÓ BABADA!

JÁ VAIS NUM MÊS,
VIRÁ UM ANO,
QUEM SABE VENHA
TAMBÉM UM MANO?...

PARA OS PAPÁS
PARA OS VOVÓS
PRA TI MARIA,
QUE O MUNDO AMA,
DESTA TUA TIA
(QUE NÔ SE CHAMA),
MUITOS "XODÓS"!



quinta-feira, 10 de abril de 2008

MICRO(poema)CÓSMICO



NADA SE PERDE NEM NADA SE CRIA,
FICARÁ NOS ÁTOMOS A ORBITAL DE NÓS,
NUVEM ELECTRÓNICA DE MELANCOLIA,
NEUTRALIZANDO A GRAVIDADE IMPÁVIDA E SOMBRIA,
QUE NOS AGARRA AO MUNDO EM TRANSLACÇÃO VELOZ...

Aspásia 08
* Inspirado neste Post da Amiga Gasolina *
(Autofoto 07)



Spente le Stelle
(Extintas as Estrelas)

Emma Shapplin

terça-feira, 1 de abril de 2008

Aula de Matemática Curiosa
(Uma Partida de 1º de Abril...)

Caros Amigos/as de Letras, Artes, Pinturas, Músicas, Ciclismo, Tapeçarias, Crochet, Rendas de Bilros, Marionetes, etc....


Podem fugir a pés! Isto hoje é só para Engenheiros/as Mecânicos! Não, não são esses, em particular ESSE que estão a pensar... refiro-me a engenheiros/as indígenas de Meca, como é evidente!


Hoje temos aula de Matemática Curiosa e Humorística! Vamos resolver um probleminha daqueles do 5º ano do Liceu dos anos 70 do século passado... mas não tão passado como o século IV d.C., em que viveu esta infeliz sábia!


Hipácia (ou Hipátia) de Alexandria, filósofa e matemática, inventora do densímetro e do astrolábio, foi torturada devido a ser uma mulher ilustrada


Vamos então meter as mãos na (mate)massa!!! Tomem de antemão 2 BenURons e vão aplicando umas rodelas de batata (crua) na testa, por via das dores de cabeça ;))...

Problema 657 b)


- Escrever uma expressão na qual só figurem três algarismos e esses três algarismos sejam iguais a zero e, simultaneamente, o valor dessa expressão seja igual a 3.

(Dica: recordar a definição de factorial de um número<:-)


Ora vão pensando enquanto ouvem a música... nada de copianço do vizinho do lado... não julguem que ainda estão no kindergarten...


...What a wonderful
wonderful world this would be.

Don't know much about geography.
Don't know much trigonometry.
Don't know much about algebra.
Don't know what a slide rule is for.
But I do know one and one is two.
And if this one could be with you.

What a wonderful
wonderful world this would be...

BEEEMMMM !!!! ACORDEM!!! AQUI ESTÁ A SOLUÇÃO...

Ora recordando que o factorial (escreve-se !) de um número é dado por

n! = n x (n-1) x (n-2)... x 2 x 1

2! = 2 x 1 = 2

4! = 4 x 3 x 2 x 1 = 24

Ora então, como é evidente 1! = 1

Mas então e quanto a 0! (factorial de zero)?

Aqui a fórmula não se pode aplicar pois aquela enfiada de produtos tem de acabar no número 1.

Então os setôres matemáticos, por artimanhas que só lá entre eles é que sabem, definiram que


0! = 1

Então, assim sendo, fica resolvido o nosso trabalhinho! Vejam só, se não é isto:


0! + 0! + 0! = 1 + 1 + 1 = 3

Não se assustem com a Matemática! É giríssima !!! As minhas "disciplinas" preferidas são mesmo a Música, a Poesia, as Línguas, a Matemática e a Física. Aliás a Matemática está em toda a parte, incluindo a Música e a Poesia...

Para a próxima não ponho música, que vocês só aguentaram com o factorial para ouvir o Simon & Garfunkel, já entendi!...

Publicado às horas (por falta de melhoras;) de 1 de Abril de 2008.

quinta-feira, 27 de março de 2008

O FILTRO D´AMÔR



Caros Amigos e Amigas

Hoje, Dia Mundial do Teatro, ponho à disposição na Internet, mais como curiosidade do que como obra teatral, a comédia musicada "Filtro d´Amôr", escrita por meu Pai em 1941 e que já foi publicada em fascículos n´ "O Quintal do meu Pai", o ano passado.
Esta peça nunca foi representada, tendo sido apenas lida em voz alta pelo Autor no antigo Teatro Luísa Todi (hoje Forum), perante o empresário do mesmo à época. Este não levou a peça ao palco, por receio que não atraísse muito público e também por ser musicada, o que implicava alguns elementos do elenco terem de cantar e/ou tocar…

Dado o muito mau estado do original, dactilografado e do qual podem ver as cinco primeiras páginas, foi-me necessário reescrevê-lo de raiz no Word. Também utilizei a Ortografia actual, nomeadamente retirando bastantes acentos circunflexos, pois nesse tempo até AMÔR o levava... bons tempos!!! Já não há AMÔR como o de antigamente... e muito menos filtros que o estimulem !... Então, se quiserem dar uma vista de olhos, cliquem em


O FILTRO D´AMÔR

Infelizmente no PDF perderam-se alguns caracteres e formatos de letra usados no DOC.




"Joujou e Balangandans"
Lamartine Babo, 1939
(Canção Brasileira contemporânea da peça)



ENTÃO, BOA NOITE DE TEATRO!



E caso detectem alguma gralha, agradeço que deixem nota nos comentários.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Aceita esta Valsa
(Tradução livre de
Take this Waltz)

Valsa Vienense

Em Viena há dez mulheres belas.
Há um ombro onde a Morte vem chorar.
Há um átrio com novecentas janelas.
Há uma árvore onde morrem as pombas,
quando já não conseguem voar…

Há um pedaço arrancado à manhã
suspenso na Galeria Gelada…
Ay… ay ay ay
Aceita esta valsa, esta valsa, esta valsa,
apesar da boca amordaçada.

Ah, eu quero, quero, quero ver-te
numa cadeira, lendo um jornal sem cor…
Numa gruta na ponta de um lírio,
num atalho onde não foi o amor…

Numa cama onde a Lua suou,
num grito de areia e pegadas…
Ay… ay ay ay
Aceita esta valsa, esta valsa, esta valsa,
cinge-a pela cintura quebrada…

Esta valsa, esta valsa, esta valsa, esta valsa,
com o seu hálito de brandy e Morte,
arrastando a cauda no mar…

Há uma sala de concerto em Viena,
onde a tua boca mil vezes cantou…
Há um bar onde os jovens se calam
porque o blues à Morte os condenou…

Ah, mas quem ousa escalar o teu retrato
com a coroa de lágrimas que acabou de tecer?
Ay… ay ay ay
Aceita esta valsa, esta valsa, esta valsa,
há tantos anos que ela anda a morrer…

Há um sótão onde brincam as crianças,
breve lá nos amaremos, tem de ser…
num sonho emoldurado por lanternas húngaras,
na neblina doce de um entardecer…

E verei que à tua tristeza acorrentaste
o teu rebanho e os teus lírios de neve…
Ay… ay ay ay
Aceita esta valsa, esta valsa, esta valsa,
com um “não te esquecerei, sabes?”, breve.

E dançarei contigo em Viena
e hei-de ir disfarçado de rio,
um jacinto selvagem no ombro,
e minha boca, lenta, bebendo
nas tuas coxas o orvalho frio.

E sepultarei a alma num velho livro
entre o musgo, lembras-te?, e as fotografias…
e à cheia da tua beleza lançarei
o meu violino barato e a cruz
onde me crucifico todos os dias…

E dançando haverás de levar-me
aos lagos que te brotam dos pulsos…
Meu amor, meu amor,
aceita esta valsa, esta valsa, esta valsa…
É tua agora. E é tudo.
**********

Poema original Pequeño Vals Vienés de F. García Lorca

Versão Inglesa e música - Leonard Cohen

Tradução livre da versão Inglesa - Aspásia 1995

sexta-feira, 21 de março de 2008

PPPP
Pai... Primavera...
Poesia... Páscoa....

Já repararam que andamos em maré de dias P ???

Dia 19 foi Dia do Pai.
Ontem começou a Primavera...
Hoje é dia da Poesia e 6ª feira de Paixão (para os católicos).
E no Domingo é a Páscoa!!!

Hmmmmm... será que tudo isto dará para fazer um Post 5 em 1 ??? Juntando todos os P !!!...

Piece of cake! Publicando aqui um Poema de meu Pai, que com ele concorreu - há 67 anos! - aos Jogos Florais da Primavera realizados em Setúbal, em 18 de Abril de 1941, organizados pela Associação dos Antigos Alunos da Escola Industrial e Comercial “João Vaz”, tendo obtido o 1º Prémio em Soneto Clássico.

Aproveito também "andar com a mão na massa" pois ando a organizar e informatizar toda a poesia de meu Pai, desde os anos 30 até hoje! (Por isso tenho andado com falta de tempo para vos visitar... e meu Pai apesar de estar de óptima saúde agora, já vai fazer 94 anos em Junho. Por essa altura eu queria ter a peça de teatro dele, que já foi publicada no "Quintal" em capítulos, em PDF na Net. E um livro com os poemas dele.)

Quanto ao dito Soneto refere-se à Paixão de Cristo ou seja... à Páscoa.

Apesar de o autor ser ateu, lá versejou e declamou o trabalho de modo a fazer inveja a muito crente... inclusivamente um senhor padre lhe perguntou como podia um ateu fazer uns versos assim! O padre, pelos vistos, não sabia que o Poeta é um fingidor...


Redenção

A Treva cai na Terra e vem impôr
pesado luto à turba que emudece.
No Gólgota, escalvado, a Cruz parece
a trágica visão da própria dor.

Crucificado, exangue, o Redentor,
de espinhos coroado, a Vida oferece,
em Santo Sacrifício, que trouxesse
a salvação ao Mundo pecador.

Debalde, ó lei humana, condenaste
Aquele que pregou a Lei dos Céus
e com ferro assassino O trespassaste!

Jesus rasgou da Morte os negros véus
e vencendo a mentira que afirmaste,
deu a Verdade ao Mundo: a Fé em Deus!

R. C. Nascimento

Setúbal, 1941


A metade superior da página de O Setubalense, referindo os Jogos Florais de 1941. No fim da 2ª coluna menciona-se o prémio atribuído ao autor, no cimo da 4ª coluna está o soneto. Na 3ª coluna, pode ler-se "No fim, dansou-se." (ainda se escrevia com s)...
(Cliquem para aumentar

Neste caso a falta de hábito... fez o monge, não acham?


BOA PÁSCOA PARA TODOS !!!

quarta-feira, 19 de março de 2008

DIA DO PAI 1966

O QUE A GENTE SE FARTAVA DE TRABALHAR PARA O DIA DO PAI!!! FAZER ISTO TUDO AOS 8 ANOS, ERA EXPLORAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL!!!


"Ofereço este dia de trabalho ao meu Paizinho..."


Já aos 8 anos me lembrava de quando era pequenina!!! E a principal qualidade do Pai era comprar coisas e brinquedos...



Na História, só me podia sair a Rainha Dª Leonor, claro!... Uma senhora muito virtuosa que dedicou inteiramente a vida à prática do bem... ;)





O famoso "homem na Lua com um molho de silvas às costas"... as crianças de hoje sabem o que são silvas? Devem responder que são os vizinhos do lado...



Meio quilo de amêndoas por 27$50 em 1966?


Que roubalheira!...




As famosas multiplicações e divisões por 10, 100, 1000, 0.1, 0.01, 0.001... destas tenho saudades!!!




No trabalho manual não era lá muito criativa, convenhamos...

BEM, CHEGO À BRILHANTE CONCLUSÃO QUE ESTE ANO TIVE MAIS TRABALHO A FAZER ISTO QUE EM 1966...

MAS O MEU PAI MERECE!




BOM DIA DO PAI ! E DOS FILHOS, JÁ AGORA...



segunda-feira, 17 de março de 2008

MARIA PRIMAVERA



Dedicado à Maria, primeira neta da Sophiamar.

Primavera pequenina
és um sonho cor de esperança!
Hás-de ter cheiro a bonina,
hás-de ter flores na trança!

Serás flor da maresia,
o mar será teu amor
pois tua Avó é Sophia,
e o Mar ama com ardor!

Recebe um beijinho meu,
nos braços de tua Avó,
ela está como no céu,
e o sonho que recebeu
partilha com todos nós!

Aspásia 08


sexta-feira, 14 de março de 2008

Maré Nova



Basta de tormentos
e basta de mágoas,
quero novos ventos,
busco novas águas.

Não quero estagnar
em águas paradas.
Quero é arribar
a praias douradas.

Eu sou maré-viva
não pântano morto.
Não sou agressiva,
procuro bom porto.

Águas de cristal
são as que transporto.
Se me querem mal,
eu pouco me importo.

Não quero misturas
com charcos de lama.
Das águas mais puras,
só serei a Dama.

Tempestade fui,
bonança serei.
Na maré que flui
a paz encontrei !


Aspásia 07


Torna a Sorriento

sábado, 8 de março de 2008

MULHER

Apesar de já muitos de vós o conhecerem, hoje, Dia da Mulher, republico este poema.

Ofereço esta rosa vermelha do meu jardim (desenhada aos 16 anos)
a todas as Amigas que a quiserem levar!

Mulher é vasto conceito
Mas direi, num improviso:
É nada, quando dá jeito;
Faz tudo quando é preciso.

É Filha da sua Mãe,
É Neta da sua Avó
Às vezes sente-se bem
Às vezes sente-se só.

É Irmã do seu Irmão
Sobrinha da sua Tia
E varre à noite do chão
O lixo de cada dia.

É Aluna do seu Mestre
É Colega e Companheira
Ora trabalha ao semestre
Ora vai vender p´rà feira.

Amiga da sua Amiga
Amante do seu Amor
De dia apanha espiga
À noite abre-se em flor.

Enfermeira no hospital
Ou 2ª Mãe na creche
Ora a Morte vê, fatal,
Ora o bebé que remexe.

Artista, Diva ou Escritora
Desconhecida ou genial
Engenheira, Professora,
Pode dar Bem e haver Mal.

Também como não é santa
Muitas asneiras comete
Mas se tiver força tanta
Corrige-se e não repete.

Pode ser que seu Amor
Seja o seu Homem também
Se por acaso não fôr
Pode escolher outro Alguém.

Pode ser que seja rica
Pode ser que seja pobre
Que vá buscar água à bica
Ou pinte no salão nobre.

E se um dia fôr Avó
Mãe pela 2ª vez
Pode desatar-se um nó
E fazer o que não fez.

Pode sempre viajar
Ou d´aldeia não sair
Mas se amar, rir e cantar
Mundos há-de descobrir.

E se às vezes se vir só
De todos abandonada
Ficará de meter dó
Se não fôr desenrascada.

Um dia velha e cansada
Vai-se embora desta guerra
Mas se amou e foi amada...
Será semente na terra.

Aspásia 07

segunda-feira, 3 de março de 2008

ROXANE


HÁ BASTANTES ANOS, GOSTEI TANTO DO FILME CYRANO DE BERGERAC, BASEADO NA PEÇA DE EDMOND ROSTAND, QUE ME DEU PARA TENTAR UMA CONTINUAÇÃO EM VERSO, NAS DUAS LÍNGUAS, EM QUE A BELA E SAUDOSA ROXANE RELEMBRA O PASSADO EM QUE CONHECEU O GRANDE "BORDADOR DE PALAVRAS", MAGNIFICAMENTE INTERPRETADO POR DÉPARDIEU. VOICI LE RÉSULTAT... AVEC VOTRE PARDON, MONSIEUR ROSTAND!!!

R O X A N E

(ou La Posthume Passion)


Je suis Roxane, "fille" de Rostand...
Jadis, je scintillais... on savait bien
qu´aux bals, aux fêtes, j´étais la plus aimée...
Mais aujourd´hui, je le crois, cependant,
si des gens parfois j´occupe la pensée,
c´est que d´ âme unique je fus l´amour trop grand...

Quelqu´un, oui... de Bergerac appellé,
son prénom, Cyrano...
Le brave Gascon que cette nuit fatale
de la main de sombre fiancée fût emmené,
en funèbre cortège nuptial,
jusqu´à profond et froid, affreux autel...
Et moi, aveugle pendant des années,
vois maintenant les eaux sur moi jaillir,
les eaux de douleur de l´ancien Léthé...

Et ce fût dans l´ombre, déjà crépusculaire,
que sur moi, comme une épée, tomba la vraie lumière!
En voyant son rouge sang, tout lentement,
les arbres arroser, les roses du jardin...
Alors soudain je compris l´amour si fou et ardent
dont les mêmes flammes m´envahissent, à présent!

Quelle immense perte, quel malheur!
Ne m´avoir avoué un tel amour
qu´en "lisant" la vieille lettre, sue par coeur,
seulement quand de sa mort il fût bien sûr!

Que d´années écoulées... et moi,
du monde eloignée et si souffrante...
Croyant aimer encore - ou rappeller? - Christian...
L´ayant perdu et sa veuve rester, fidèle, aimante...
quand, il y a bien courtes heures, ce matin,
de Cyrano la cristaline source coulait, cette pûre âme
qui lui prêtait son esprit... ses paroles... sa flamme!

Cyrano, qui de mon amour se crût indigne
par des dons de physique beauté, pas en avoir!
Et maintenant qu´il me laisse, il me fait voir:
c´est mon âme qui est pas digne de la sienne,
qui, pour me plaire, brûlait en déséspoir!

Pauvre folle... donc, c´était bien Cyrano que tu aimais!
Car de lui venaient l´esprit et les paroles...
Tendre musique que tes sens enivrait!
Ces diamants précieux, éclats d´un coeur
de que Christian n´était que le porteur...
Mais qu´en étant beau, tu aimer croyais!

Ah, Cyrano, mon grand amour, le vrai...
Tendrement écoute la prière que je fais:
attends-moi tout sereine et doucement
pendant que tu parcours cet espace étoilé,
car près de toi je serai bien courtement,
nos âmes enfin unies à toute éternité!

Amis, je suis Roxane... Roxane? Encore??
Hélas, non... Roxane fût la belle qu´aima Cyrano
elle n´y est plus puisque Cyrano est mort...
Et celle que voici, une ombre dans la brume,
Celle... genoux par terre, l´âme toute en morceaux,
autre femme sera... ou même femme aucune...

Car de Roxane il ne reste qu´un coeur sans prénom -
déchiré dans l´angoisse de posthume passion...



R O X A N E

(ou A Póstuma Paixão)

Sou Roxane, "filha" de Rostand...
De vós, alguns me conheceram bem,
(outros me terão, talvez, até amado...)
A maioria, creio, no entanto,
de mim terá apenas recordado
ter sido eu o grande amor de alguém...

Alguém, sim... Cyrano..., de Bergerac chamado,
Cyrano que esta noite tão fatal
pela fria mão da morte foi levado
até ao negro, tenebroso altar,
em funesto passeio nupcial...
E eu, cega durante tantos anos,
vejo agora a fonte em mim brotar
do triste Letes, rio dos desenganos!

Naquela escuridão crepuscular de há pouco,
é que a luz verdadeira eu atingi enfim!
ao ver seu sangue rubro, lentamente,
invadindo os canteiros das rosas, no jardim...
Então é que percebi aquele amor tão louco
que agora ateia igual incêndio em mim...

Que imenso desencontro, por meu mal!
Só me ter declarado seu amor
fingindo ler a carta, que sabia de cór,
quando a certeza de morrer teve afinal!

Tantos anos... e eu
retirada do mundo e tão sofrida...
Pensando amar (ou recordando apenas?) Christian...
Vivendo até agora neste engano,
quando ainda há poucas horas, de manhã,
corria a bela fonte que lhe dera vida:
o espírito, as palavras de Cyrano!

Cyrano, que de meu amor se cria indigno
por não possuir dotes de física beleza!
E agora, que me deixa, creio e digo,
minh´alma não ser digna de tal alma
que, por me alegrar, vivia na tristeza!

Pobre louca, afinal era a ele só que amavas!
Porque dele vinham o espírito e as palavras
quais preciosas jóias, cintilações do amor,
de que Christian era, apenas, portador...
Mas, que por belo ser, tu amar julgavas!

Assim, meu bem-amado que já me vês do Além,
esta terna súplica te faço:
espera tu por mim, serenamente.
enquanto percorres o sideral espaço...
Pois a ti espero unir-me brevemente,
na eternidade juntos em imortal abraço!

Amigos, sou Roxane... Roxane? Ainda??
Não, Roxane era a bela que Cyrano amou
e não pode existir se Cyrano morreu...
E esta que aqui vedes, envolta na neblina,
esta que as mãos aperta e a cabeça inclina
outra mulher será... outra, que não eu...

Pois de Roxane resta apenas o triste coração -
dilacerado nas ânsias da póstuma paixão...


Aspásia 94

Excertos da banda sonora de Cyrano

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O que a gente teria perdido se eles não tivessem sido Compositores!...

Calculam o que alguns compositores também faziam... ou estavam para fazer? Não??? Então leiam!...



Hector Berlioz esteve para ser médico osteologista.

Heitor Villa-Lobos também queria ser médico. (Parece então que os Heitores têm tendência para a Medicina... vocês conhecem algum Dr. Heitor... que também componha?).

Débussy esteve para ser marinheiro (por isso, depois terá composto “O Mar”. Bela sublimação!).

Rimsky−Korsakov era Oficial de Marinha.

César Cui era engenheiro de fortificações militares.

Antonin Dvorak era para ser estalajadeiro e açougueiro, como seu pai queria, para continuar o negócio...

Arnold Schönberg foi bancário.

Charles Ives fui funcionário de Seguros.

Jan Sibelius estudou Direito.

Piotr Tschaikovsky trabalhava no Ministério da Justiça.

O pai de Dimitri Dimitrievich Shostakovich era engenheiro, também se chamava Dimitri, como se vê pelo 2º nome do filho... e trabalhou como assistente de Mendeleieff – o criador da Tabela Periódica dos Elementos – no Instituto de Pesos e Medidas de Moscovo... naturalmente esperava que o filho também o seguisse na Engenharia, além de o ter seguido no nome...




Bem, mas felizmente para nós, todos eles foram Compositores!

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Trovas Soltas

AMIGAS/OS, este Poema já antiguinho vai servir de base para responder ao desafio que a PIN GENTE me deixou: escrever um texto em que entrem 12 palavras incontornáveis para cada um de nós... PIN GENTE, espero que compreendas e me desculpes a batota!




A Vida é luta infindável
que todos querem ganhar;
mas vencer é improvável,
por isso, é aconselhável
com perspicácia jogar.

Muitos houve que trilharam
caminhos de perdição;
outros que desesperaram,
corpo e alma destroçaram,
por obter libertação.

Tenho sede de Absoluto
e ânsia de Perfeição
Eu sou diamante em bruto
que sonha a cada minuto
na sua lapidação.

Se dizem que ele houve um Deus
que de Si me copiou,
rasgarei da noite os véus
e indagarei dos céus
se esse Ser me originou.

Se é loucura querer saber
e pecado querer amar,
pecadora quero ser
e, alienada, sofrer
escárnio da gente vulgar.

Procuro fazer crescer
o pouco que tive em sorte;
quero amar, rir e sofrer
− pois não é por não viver
que terei perdão da Morte.

Aspásia 98


terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

OBRAS DEVIDAS A GATO NO PC

GATO NO PC

MIAU, MIAAAAAU!!! DAQUI NÃO SAIO, ESTOU QUENTINHO COM ESTE SOBREAQUECIMENTO DA MOTHERBOARD...


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

CONTRA A PEDOFILIA

NÃO MEREÇO O QUE ME VAIS FAZER!
SOU CRIANÇA, NÃO QUERO DEIXAR DE O SER!

PARA OS NAMORADOS E NÃO SÓ...


Saovalentim


From: guestabfe74, 1 hour ago





DIA DE SÃO VALENTIM
(PPS DE ASPÁSIA - PORTUGAL)


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terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Sonho Azul


Imagem daqui


Um dia, idealizei um sonho inolvidável,
de cores mil, de mil aromas cheio...
E em que tu e eu vogávamos no meio
de um mar azul e inimaginável.

Num embalo doce, as águas deslizavam...
E, nesse veleiro quase imponderável,
e sob os suaves raios de um sol inigualável,
em muda adoração nossas almas vibravam...

Êxtases de cor e tons de maresia
eram companheiros nessa longa viagem,
cúmplices do nosso amor de noite e dia...

E, quando ao crepúsculo morria a aragem
e se aproximava a hora da vigia,
no espelho azul das águas, tremia a nossa imagem
no espelho dos teus olhos, o amor se reflectia...

Aspásia 94



quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Margarida, minha Irmã



Maria Margarida Fernandes de Carvalho Nascimento

(7 de Fevereiro 1947 - 14 de Dezembro 1972)

- Retrato a Óleo (póstumo)




Jogando à bola com o Pai - 1956


Irmã, se fosses viva farias hoje 61 anos.

Infelizmente partiste muito cedo, tão cedo que ainda quase não nos conhecíamos… eu entrava em pleno na adolescência e tu eras 10 anos mais velha, e embora vivesses aqui no prédio com a tua Avó, pouco convivíamos a não ser ao fim de semana ao almoço, ou quando eu passava lá por baixo pelo quarto independente da D.ª Emília, mas poucas vezes estavas. A Faculdade de Direito tomava-te quase todo o tempo e a nossa diferença de idades era bastante significativa no nosso escalão etário.

Além disso, tinhas as tuas amigas, a Jusse, já desde o Liceu, a cuja quinta ias andar a cavalo e que se formou em Direito no mesmo ano que tu – 1969 - e a brasileira Lúcia, que tinha vindo para Portugal e tinha dois anos menos que tu, conheceram-se no voleibol… a Lúcia, tão acarinhada por ti e pela Avó Maria, quando veio estudar Medicina para Portugal. A Lúcia, que nem sempre tinha muito dinheiro e almoçava muitas vezes contigo e a Avó. A Lúcia, que te convidou para ires ao Brasil, à casa dela no Rio Grande do Sul, no Natal de 1972. A Lúcia… que colocou o que restou de ti depois do acidente no jazigo da família dela, na cidade de Bento Gonçalves. A Lúcia… seria preferível não teres conhecido a Lúcia de Souza???

Foi longa aquela noite de 14 de Dezembro de 1972.

O telefone tocou pelas 10 da noite. Tu tinhas partido com a Jusse e a Lúcia para o Brasil no dia 7 ou 8… já tínhamos recebido dois ou três postais teus… e depois dessa noite ainda recebemos mais um ou dois… o Correio era lento do Brasil para cá… nunca aqui em casa se tinham recebido postais de uma morta, até então. Claro que os tenho todos guardados, e recentemente encontrei outros mais.
O nosso Pai atendeu. Pela cara e de onde vinha o telefonema… eu percebi logo que algo grave, muito grave se tinha passado.
“Um acidente. Um camião em sentido contrário... A sua filha ia a conduzir. Com as amigas Jusse e Lúcia e o pai iam todos no carro deste último… O camião perdeu a mão, ou pareceu vir contra o carro… A sua filha tentou desviar-se. O carro despistou-se: A sua filha foi projectada pelo vidro da frente. Foram todos levados ao hospital. A sua filha faleceu. As amigas e o pai da Lúcia, feridos, mas vivos… Quer trasladar a sua filha para Portugal?”
Eu e a minha Mãe estávamos já em prantos. O nosso Pai, lívido, mas nem uma lágrima. “Para que quero eu aqui uma filha morta? Fica aí convosco que fica bem… Antes quero dar esses 400 contos à minha filha viva – eu – do que a uma filha morta que já de mais nada precisa.”

Desligou o telefone. Eu estava num choro que só dois dias depois é que foi passando.



Maria dos Santos, a Avó Maria, perdeu o marido, a filha mais velha Felismina de 20 anos, a filha Albertina de 25 e o filho Jaime (pai de Jaime Fernandes, locutor de rádio), todos levados pela tuberculose. E finalmente sua neta Margarida de 25 anos, minha meia-irmã, num acidente de viação no Brasil.



E agora? Como dizer a uma Avó-Mãe, que já perdera o marido, o filho e as duas filhas, todos levados pela tuberculose… e que só via a neta desde que ficou órfã com um ano de idade… que a neta de 25 anos acaba de morrer no Brasil?



No Casamento dos meus Pais (de laçarote) - Agosto 1956



Lá fomos em féretro a casa da Dona Emília. Os rapazes estavam também, o Adrião, o e o Paulo. (Ah, a propósito, irmã. O Zé já se foi, fez um ano em Dezembro, com 50 anos… Foram muitos anos de droga… o irmão dele, o Adrião, andou ali a tirar os velhos móveis e candeeiros do 1º andar. Eu e o Pai vínhamos a entrar e lá lhe demos os sentimentos. O Adrião, mais novo que tu uns 6 anos, tem quatro filhos e já é avô, calcula… O Paulo teve uma doença grave, mas está controlado. A minha Mãe também já se foi em Abril de 2002. A Mãe deles, D.ª Emília, que também foi tua segunda mãe, foi logo a seguir, em Maio desse ano. Felizmente não viveu para assistir à morte do filho Zé.)

Nem me lembro já com que palavras, o meu Pai lá contou à tua Avó o sucedido. Pois ficou como calculas… ou viste daí… Uma vida inteira a criar-te. Era tua Mãe, além de Avó. Maria dos Santos, viúva do marido, “órfã” de 3 filhos, entre os quais a tua Mãe, Albertina, 1ª mulher do nosso Pai. Maria dos Santos, de Vila Nova do Ceira, Monteira, Góis. Maria dos Santos, analfabeta, ex-empregada no Instituto Pasteur, onde lavava frascos de vidro e onde foste criada dentro dos grandes caixotes de cartão que te serviam de parque, irmã. Maria dos Santos, a tua Avó, perdeu por fim a única neta nesse Natal de 1972. Ainda te sobreviveu seis anos e faleceu em 1978. Uma Avó Coragem… eu ia ali muito à casa da frente para onde vocês tinham mudado poucos meses antes de tu faleceres, tratar dos canários e fazer alguma companhia, claro. Fui a neta adoptiva, a única que restou.

Olha… ainda acabei o barco em miniatura que tu deixaste incompleto. Acho que era o “H.M.S. Beagle”, onde Darwin foi na expedição às Galápagos. Os teus livros de Russo agarrei neles e também estudei um bocado. Pelo menos sei o alfabeto e sei ler mas hoje em dia só me lembro aí de umas 20 palavras… nesse tempo sabia muitas mais. A ti é que o Russo te ia fazer falta para quando entrasses no Gabinete da Área de Sines… para mim o Russo foi apenas um desafio e o gosto pelas línguas. Mais um hobby nas férias passadas no Alentejo…

Também tenho comigo muitos versos e desenhos teus, já tinha alguns, mas, finalmente com a entrega do teu pequeno apartamento que se fará ainda este mês, encontrei todos os teus papéis que ali ficaram durante 36 anos, em que a pequena casa foi servindo de biblioteca e armazém, depois do falecimento da Avó.

Dos montes dos teus livros, li os do “Santo” e os do Zane Grey todos. Claro que os da tua infância, os Cinco, a Semana de Aventuras, a Condessa de Ségur e o Emílio, esses já os tinha lido todos, ainda eles estavam na gaveta de baixo da cómoda, no quarto independente, onde eu regularmente me ia abastecer.
De coisas mais antigas que o Pai vai contando às vezes, lá sei que, logo depois de a tua Mãe Albertina ter falecido de tuberculose com cerca de 25 anos, o Pai e a Avó contigo ao colo vinham todos os dias de Mem Martins para Lisboa no combóio de Sintra. Depois, no eléctrico, mesmo depois de fazeres 6 anos continuaste a não pagar bilhete durante mais uns anos, pois todos os revisores conheciam a pequenita Calila, órfã de Mãe, que vinha sempre ao colo da Avó há tantos anos no mesmo eléctrico.


Também encontrei versos de tua Mãe Albertina e tua Tia Felismina, que amorosamente guardavas sem ter conhecido nem uma nem outra. Ambas com grande veia poética, tua Mãe e Tia foram colaboradoras na "Revista Trastagana" de Évora, até falecerem. Eu só soube disso agora que encontrei meia-dúzia dessas revistas, de 1936. A veia poética passou para ti, de tua Mãe e de nosso Pai. Agora, apesar de tão idoso, recuperou a saúde que parecia estar a abandoná-lo o ano passado, felizmente.
Um destes dias começarei a publicar algumas obras tuas, entre desenhos, poemas, prosas por aqui. Não se sonhava, no ano em que faleceste, que a Tecnologia de hoje em dia permitisse uma coisa dessas.

Irmã, terei de escrever mais sobre ti, para que alguns Amigos meus fiquem a conhecer algo da pessoa que já eras e cuja vida e talento, cortados cerce na nefasta senda de tua Mãe e Tios, ainda tanto tinham para dar.

Recebe um beijo de nosso Pai e desta tua irmã

Leonor




Minha Mãe, minha Irmã e eu - 1958


UM SONETO DE MARGARIDA (dedicado a seus padrinhos)

Para a Madrinha e o Padrinho, o Fernando Manuel, a Dadi, o “tio” Hermínio.


Se sinto tanto afecto, só de olhá-los,
É pena desigual deixar de vê-los;
Se presumo, com obras, merecê-los,
Má paga deste engano é chateá-los.

Se me vêm saudades, ao lembrá-los,
É por ter aprendido a conhecê-los;
Se mais me quero a mim, por bem querê-los,
Mais me aflige a ideia de deixá-los.

Expressões menores são, que o pensamento,
Estas tão pobres rimas, com que tento
Com fraco engenho, dizer forte sentir.

Ainda os não deixei, e, que ironia!
Falta-me já a vossa companhia;
Sobeja-me a tristeza de partir.


Margarida
7/10/71

(Infelizmente, este Soneto de minha Irmã, aos 24 anos, veio a revelar-se premonitório.)