sexta-feira, 10 de agosto de 2007

O Porto Sentido... a Sul

A amiga Sophiamar publicou há dias um Post contendo um Vídeo com a bela canção Porto Sentido. De imediato e com alguma emoção, recordei este Post que coloquei neste Jardim, há um ano atrás. Querida Sophiamar, apesar de já te ter deixado um link para o meu antigo Post, decido mesmo republicá-lo, dedicando-to com o maior carinho, pois "a Amizade só pode existir entre quem ouve a mesma Canção" ! Um grande beijo meu, sentido em Lisboa, sente-o tu onde quer que te encontres!


O Porto ao entardecer
(Foto
daqui)

Pelo "Porto Sentido" já eu ficara apaixonada desde a primeira audição. Para mim continua mesmo a ser a mais bela canção do Rui Veloso. Não só pelos versos e melodia incomparáveis, mas também porque, dedicada a uma cidade, parece também dirigida a alguns de nós em certas fases da vida.
Há um bom, mas mesmo bom par de anos, princípios de Março, fui passar uns breves dias de férias a um Algarve completamente primaveril. No caos do saco das cassettes de então, lá ia também uma do Rui Veloso. Os diazitos decorreram breves, algumas correrias para conhecer melhor o Barlavento, desde Quarteira ao Cabo de S.Vicente, ali, onde a terra acaba e o mar começa, gozando da hospitalidade de uma amiga de Lagos. O último dia, esse, aproveitado para descansar um pouco na paz e sossego de Pedras da Rainha, quase no extremo oposto. E na manhã seguinte, mesmo antes do regresso a Lisboa, carro já atafulhado, não resisto, um passeiozinho à beira da Formosa, o pinhal de Cabanas cá em cima, a ria lá em baixo, belezas estas já bem conhecidas de outras estadias, mas sempre saudosas, de tão distantes. E nessa altura do ano, imperturbadas pelas multidões estivais... Então, ideia brilhante, ouvir ali na luz, tão a Sul, o “Porto Sentido”… faria sentido??? Um dia já recuado, "o Corridinho foi dançando até Lisboa...", porque não levar eu agora o Porto ao Sotavento Algarvio? Digressão por sinal bem mais longa...
E na luminosidade feérica de um meio-dia algarvio, reflexos intensos na água azul e desabrochar de verdes atrás de mim, começo a ouvir a voz e a música do Rui e as palavras do Carlos Tê. Luzes sombrias, tons cinzentos, neblinas e lampiões, pedras sujas e gastas da sua bela Cidade, não pareceram entrar em conflito com a luz forte, o azul intenso, o claro areal algarvios. Belezas tão distantes – afinal se calhar só no mapa – mesmo ali não colidiam, complementavam-se, olhos e ouvidos estavam em harmonia,.. E, quando a canção chegou ao fim, jeito fechado de quem mói um sentimento e altivez de milhafre ferido na asa, percebi também não serem exclusivos de uma cidade ou lugar. Senti-os plenamente humanos e, por isso mesmo, universais.


A Praia de Cabanas
(Foto Aspásia)

* * *
Nota: Esta "história" passou-se em Abril de 1994. Foi lida no programa "História Devida" de dia 7 de Agosto de 2006 da Antena 1. (Infelizmente, creio que já não está disponível nos podcasts da RTP.)




Neste mesmo dia, há 51 anos, meus Pais partiam para o Porto em lua-de-mel. Infelizmente, minha Mãe já não está connosco para hoje comemorarem as Bodas de Ouro. Fica mais esta recordação...